(para Mari, em memória de Pretzel, a quem eu nomeei)
Eu pensava que, como as letras e o ouro,
os gatos não morriam nunca
que eram um mistério para além da vida
que eram da mesma matéria dos afagos maternos
que eram derivados dos genes dos unicórnios
e encantavam-se no não-ver das coisas, assim que ficássemos adultos
Mas um dia Deus viajou para outros homens
e o mundo ficou de terra, de água e de fogo
de coisas que podiam ser explicadas
e por serem explicadas simplesmente morriam
E o gato virou um pequeno felino
com retinas, músculos, cérebro e estômago
saliva, fúria e dor intensa
o gato virou nosso irmão
E pudemos, pela primeira vez,
abraçar o gato e desejar-lhe o melhor
afagar o gato e beijar-lhe a fronte
amar o gato e saber-lhe finito
deixa-lo partir, para que possamos continuar