quinta-feira, setembro 30, 2004

Maio Maduro Maio

Eis de onde vem o título deste blorgh: (Madredeus - Lisbon Story - Trilha do filme - Bonus Track)

Maio maduro maio
Letra e música: Zeca Afonso

Maio maduro maio
Quem te pintou
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou
Raiava o Sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul
Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar
Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre depois do trigo
Se cantará
Qu'importa a fúria do mar
Que a voz não te esmoreça
Vamos lutar
Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça
A turba rompeu

Fogo do sol, carne da lua Posted by Hello

Fire of the Sun, flesh of the Moon

Meu amor...

Quando eu estava na Rússia, queria me perder por lá e nunca mais voltar por aqui. De tudo tão belo que parecia pipocar as minhas retinas, foi surgindo uma saudade - tão portuguesa em sua maneira de ser sentida, tão africana na sua maneira de ser cantada. Adoeci de banzo. Eu olhava para cada menina russa e via você. Por isso não fique enciumada se eu desenhei uma menina que me chamou a atenção em uma loja de bonecas russas. Eu estava desenhando você. Foi lá, tão distante da terra em que piso, tão distante do mar que eu amo, que eu descobri que teria um motivo para voltar. Então eu não quis mais me perder. Fogo do sol, carne da lua.


Meu amor:
Você é o fogo do sol, a carne da lua
o brilho da prata, a nobreza do ouro
o ventre da terra, o móvel do ar
o sangue da água, o conforto do gelo
Você é a rosa dos ventos, a palavra pensada
o segredo da noite e o batismo do dia
o cheiro da madeira da casa para o corpo estrangeiro
a terra nunca dantes vislumbrada para os olhos apátridas
o repouso no seio da vida, a vã formosura
o elogio à companhia eterna e o terror do degredo

Eu perdi as digitais dos meus dedos e as íris dos olhos
eu perdi as marcas do corpo e a noção do meu tempo
fui apagado de cada memória, fui expulso de casa
eu retornei até o dia anterior ao meu nascimento
Para que nada restasse por antes e por gênese
para que nada eu soubesse por gozo ou por medo
Para que eu não existisse agora (como eu era)
para que eu nunca fosse o que eu seria, ou porventura
nem mesmo eu mesmo, nem nada
nem como tradição falada, nem como cultura
apenas como algo a porvir e que te louva
pois és o fogo do sol e a carne da lua.

quarta-feira, setembro 29, 2004

Seios

Um poema erótico para animar esta merda:

Seios

Se cabem em minhas mãos, não os quero
o paradoxo do peito pacientemente eu espero
ter peitos é não tê-los e sempre imaginá-los
pois se não cabem nas mãos, não podemos clamá-los,

por nossos como mãos que nas nossas mãos bem cabem
só quero peitos que fartem,que deleitem e que sobrem
para perder-me entre eles e entre eles me achar
para vê-los crescer nas meninas a rodar

pois se vejo com ânsia esse crescimento
é que há um momento, de noite ou de dia
onde há uma alegria no porvir que imagino
o fino tecido ser rasgado com euforia

Então terei finalmente saciada essa fome
que habita meu pau, minha boca e meu nome
o paradoxo do peito ministrará meu prazer:
de ter em minhas mãos o que não posso reter


Eu, por exemplo

Era uma vez um patriarca judeu que morreu e nunca foi enterrado pelos seus filhos. Era uma vez um garoto que foi trabalhar em um hotel em que Sartre se hospedaria. Era uma vez um Barão que fez um pacto com um demônio. Era uma vez três amigos que descobriram uma sociedade que tinha por objetivo libertar as mentes do pensamento medieval. Esses sou eu. Alguém que neste momento se utiliza deste expediente para comunicar. Re-ligar. Existir. Alguém que está em um lugar que não mais importa, porque todos os lugares acabam aqui. Alguém que conhece a fúria do mar. Você conhece a fúria do mar? Então foda-se, porque ela não me importa. Eu a venci. E vim contar essas histórias (e não estórias) a vocês que sequer existem.