quinta-feira, outubro 28, 2010


Uma menina feliz faz cá dentro a felicidade imensa
Flagrada distraída no passado - presente
foram meus olhos que fotografaram, longe, mas perto também
E seis anos jamais se passaram, estão aqui

segunda-feira, outubro 25, 2010

VIRGINDADE





Por que chegaste agora, unicórnio, quando minha mão apedrejou o mundo?
Agora que os meus nós seguraram os barcos, e a vazão do mar não passa minha sala
Por que chegaste agora que meu peito inflamado ora se cala,
e quando meu peito calado é, morto, um mar sem fundo?

Por que chegaste agora, unicórnio, se agora eu uso gravata?
E tudo que há ao redor de mim tem carimbo, duplicata e segunda via
Por que apareces a mim quando tenho sono no final do dia
E o coração rebelde morreu confinado em embalagem de lata?

Por que chegaste agora, unicórnio, quando meus cabelos são mais brancos?
E toda palavra que sai da minha boca tem que ser pensada
Tu chegaste quando o exército do mundo derrubou minha armada
E a areia do moto-contínuo fez brotar todos os meus cancros

Por que chegaste agora, unicórnio, quando meus modos são de fino trato?
E as revoluções da noite não resistem mais ao raiar do dia
Por que olhaste para mim quando em mim plantei essas flores de ironia?
E te sufoquei lentamente até de unicórnio verteres em rato

domingo, outubro 17, 2010

Bastardo

Se eu não escrever hoje esse poema, alguém o escreverá por mim
Na tradição do haiku japonês ou nos longos descritivos latino-americanos
Ou em São Paulo, um poema rápido, certeiro, como a cidade que já se foi

O poema não se atém a mim
Não se dobra
Não se cala
Não diferencia o caráter de quem o empunhará

Talvez o filho de um poeta morra hoje (e a solidão avassaladora do ser
Lance uma rede para o infinito
E roube de mim esse poema, que tanto custa a nascer)

domingo, outubro 10, 2010

Maria Eduarda, meu tempo

O paradigma do meu tempo estava nos fios brancos da minha cabeça, no meu corpo que não corresponde mais às expectativas da plenitude humana. Agora, eu vejo o tempo agir no sorriso de Maria Eduarda. Nas perguntas que ela me faz. O tempo desce nos cachos de saem da cabeça de Maria Eduarda e não se deixa domar apesar dos meus clamores para que ela caiba de maneira perpétua em meus braços. Maria não se importa com a passagem das horas, ela é imune às digitais que o velho imprime dentro da nossa cabeça. Mas eu sou atingido toda vez que uma vela a mais compõe sua idade sobre o bolo de aniversário. Já não preciso me olhar no espelho, contar os dias, dispor dos segundos restantes. Minha medida de tempo está em Maria; é nela que eu envelheço, é por ela que fico cada dia mais novo, renascendo frente ao tempo que, tão perfeitamente, sorri para mim.