domingo, agosto 14, 2011

PATER FAMILIAS







a Josué, Maria e Filipe


Paternidade é presença e ausência
Palavra silenciada no peito em carne viva
Mil vezes pedra na solidão da coadjuvância
Mil vezes estio na chuva que tarda a chegar
Vocativo afogado na seca dos olhos em lágrimas
De tanta coisa sentida que já não se assemelha a palavra
Lavrada pelo ódio das regências e das normas
Aquecida duramente pelo carinho não confessado dos séculos
A paternidade custa a entrar em nós e é árida
Mas no amor das rochas dorme o que escapa da morte e do nada

sexta-feira, agosto 12, 2011

FDR





Do lugar em que me formei, diz-se Casa de Tobias
Por ter sido, Tobias Barreto, seu aluno melhor
Escreveu grandes obras jurídicas e de filosofia
Concorreu à cátedra na sua Casa e ali se eternizou

A Casa de Tobias nunca foi casa minha
pois nunca soube da vida o que seria meu
Minha filosofia não se alimentaria da poeira do passado
Nem minha poesia nasceria de um fogo que anoiteceu
Eu vivia fora da sala de aula,
Esperando, com um copo, o Mundo que me corrompeu

Mas por lá também estudou Carlos Pena Filho
Que o efeito da vida sobre a poesia preferia estudar
Nas mesas de ferro do extinto Bar Savoy
(que mimetizava o Mundo que dói em forma de bar)
Os homens engarrafavam sonhos em forma de navios
Dando-lhes nomes de mulheres e de heróis vindos do ar

Que maravilha seria estudar ao lado de Carlos
E ver o direito internacional, nos copos de vidro, naufragar
Do direito penal exigir somente a liberdade das gravatas
E do direito privado pedir que apenas nos deixassem público o mar

E proclamar que nenhuma norma é válida
Com tanto desejo preso no coração
Depois da meia-noite seríamos todos réus primários
Buscando no navio do Mundo a nossa consolação

Por isso quando perguntam onde eu estudei
Se é na Casa de Tobias que a saudade me corrói
Eu engarrafo um navio em forma de sonho
E digo que minha Casa é a Casa de Carlos,
O Carlos do Bar Savoy