terça-feira, setembro 21, 2010

VESTIR O MORTO

Vestir o morto
Cobrir com cotidiano o corpo lasso do morto
Conceder-lhe dignidade com o terno
Humanidade com a gravata
Adoçá-lo com os sapatos caros de pelica

Vestir o morto
Atualizar o tempo ido do morto
Dar razões às lágrimas ao se domar a morte
Com a roupa mais clara que possuía o morto
Conter a decomposição mundana do corpo

Vestir o morto
Emprestar um último suspiro ao morto
Recobrir a pele fina com outra pele mais bela
Congelar a vida extinta enquanto a terra espera
Para despir com morte a vida fictícia, inventada e terna