domingo, novembro 07, 2010

Lullaby

Ao Mafuá do Malungo




Nessa rua, nessa rua tinha um bosque,
e tinha um portão de ferro para o passado não sair
tinha a marca dos meus dedos em uma casa
e um bonde imaginário sempre por vir

Dentro do bosque (dentro dele) morou um anjo
Cujas asas a poesia arrancou
Tinha uma dentadura engraçada e proeminente
e não sabia – pobre anjo - falar de amor

(Bosque, rua, anjo e tempo não resistem
Às intempéries que constroem as discussões
são de vento ou de sonho, e não se firmam
duram só o momento das ilusões)

Se essa rua, se essa rua fosse minha,
Eu mandava, eu mandava ladrilhar
Com a pedra que constrói a eternidade
Para o que eu fui nunca mais se acabar

terça-feira, novembro 02, 2010

Notinha Social 02/11

Um vendedor de caranguejos passou em frente à minha casa; bastou isso para aquela melancolia saudosista de Manuel Bandeira tomar conta de mim. Tentei em vão livrar-me do lirismo, da visão idílica de um Recife que já se foi. Qual quê. Prega na gente que nem o piche que não existe mais. Não existe remédio para isso. Pode se empanturrar de água rebelo, elixir paregórico, enfiar aspirina goela abaixo: o saudosismo recifense é um verme que se instala no coração.