quarta-feira, outubro 18, 2006

Cartola

Entre a carne e a cruz (onde mora a dor)
Onde o meu samba fez morada
E a semente nunca vira flor

Nesse grande mar, solitário e vão
Fico porta-voz da alvorada
E cubro o verde-e- rosa do meu chão

A noite quando me vem é madrugada
E o mundo já se vai dentro de mim

É o samba quem me mostra
A flor a ser exposta
Na valsa da solidão de quem diz sim

quinta-feira, outubro 05, 2006

Quadrinha dos que dizem sim

(Alfama e Mouraria)

Senhor capitão, dá-me vinte cortes de vida
Para eu armar meu festim
Que tenha sangue e ojeriza, que tenha branco e carmim

Senhor capitão, dá-me trinta onças de sonhos
Para eu lançar pela pia
Entre as sobras da janta, que era o que em mim havia

Senhor capitão, dá-me cinqüenta dias de vênias
Ou mais de um mês de amor
Que alguém me disse que tinhas, bons remédios contra rancor

Senhor capitão, dá-me quarenta léguas de caminho
Para eu continuar a sorrir
Ainda que eu tenha que caminhar sozinho, que me leve aonde preciso ir

segunda-feira, outubro 02, 2006

RAQUEL

Procurei-te no útero dividido de nossa mãe
No berço nosso que eu quebrei por ver você em meu futuro
Procurei-te em meus braços que sustentaram a nós dois em meio a dezembros
Na interpretação do Outubro, na interpretação da Libra
procurei nas nossas viagens, onde dividimos a surpresa da imensidão desse Mundo
E nos meus choros que curaste na crueza da verdade do nosso sangue

Procurei e não encontrei.
A festa havia acabado. A tua cama estava fria.
Os nossos pais estavam velhos.

Pisei os lírios e os cacos de vidro
Gritei teu nome e percebi como teu nome é forte
Nem no passado, nem no presente, nem na coisa por fazer
Estava só em meio aos padrões dos nossos genes.

Mas a tua ausência chamou meu nome
E eu fechei meus olhos para ouvir tua voz
Porque a liberdade transporta a carne nossa
Abro a porta do guarda-roupa e te acho sorrindo
Escondida no infinito de dentro de mim