quarta-feira, outubro 29, 2008


No fim daquela estrada

havia uma igrejinha

cinco anjos barrocos

dois dedos de prosa

um quarto de cachaça

o tempo que ali resolveu parar

eu olhei para você

e com todas as dúvidas do homem

perguntei

"ora, vamos nos casar?"

e você a mais bela de todas

com os dedos de flores

as estrelas na fronte

o vestido de infinito

sussurou em meu ouvido

"deus me livre, me guarde"


e, depois, com o sorriso no rosto

espantou o meu gemido

"se é para alegria dos olhos
felicidade geral da inexatidão
fique tranquilo que eu caso "


e o Senhor me disse "amém"

sexta-feira, outubro 24, 2008

No peito de um homem feliz bate um jambeiro
bate um jambeiro, bate um jambeiro

No peito de um homem feliz bate um jambeiro
bate um jambeiro a florescer no seu quintal

domingo, outubro 19, 2008

Ode à Shylock

Excelentíssimo Senhor da minha concentração
Marquês das roupas estiradas na cama, ou em qualquer lugar mínimo que lhe pareça aconchego
Duque da vista da minha varanda, cuidadosamente colocada por Deus, unicamente para o seu deleite
Sire do Mundo todo que presumimos por todo
Milord
permita-me dois dedos de meus poemas, para dizer-lhe o que não precisas ouvir

A tua cauda aponta para a via Láctea, os teus olhos apontam para o que tu queres
És o conquistador terrível das tuas vontades, a polícia desbravadora do que não sabes
O sorriso oculto em Da Vinci, que se equivocou ao pintar uma reles
Quando toda a explicação reside no sorriso que dás e que olhos comuns não percebem

Esticador hábil do próprio corpo, que faz dele a ponte entre o prazer e o deleite
Mestre das próprias unhas, elegantemente dispostas ao ato de apenas dizer-lhes:
“eu as tenho”
e calado mostrar quatro bainhas que, de tão nobres,
faz-te apenas expectar que as aceitem

Cavaleiro do próprio corpo, que não precisa de qualquer outro pra completar o trote
Ser completo em si mesmo, dono do próprio dote
eu quero cantar-te porque só sei de mim se contigo, porque não és meu amigo mas mi lorde

E eu que nada sou, nem poeta, nem gente e nunca serei nobre
curvo-me ao que não entendo: letras, ouro, corvo e sorte
curvo-me então aos teus olhos que reclamam a propriedade
do meu corpo, dos meus bens, de tudo que percebem e colhem
pois é este o ato maior de Deus: de ser senhor de tudo o que se pode

E ainda assim, nesta que é a maior de todas as posses, deitar diante de mim
E ofertar-me. O prazer de ser seu senhor e aplacar a minha sede
De não querer ser gente mas este
Mistério indecifrável que tem a mim e eu a ele.
Quantos mundos existirão entre um homem e seus gatos?
quanta assimetria, segredos, confissões
levaram esse que sou a amar
algo tão alheio, tão diverso e ao mesmo tempo próprio
tornar-me o animal de estimação dessa grande ausência
e deixar-me encoleirar por saudade tão diversa

Quantas cidades, quantas pessoas, quantas antlântidas submersas
existirão entre um homem e seus gatos?
Nesse espaço vazio que se assenhora de mim
fica a capacidade de amar o plural
rendido, inutilmente rendido, a um mundo sem animais
bestialmente humano, com essa dignidade reles e torpe
sem os olhos noturnos que contêm o que ainda há de sagrado:
eu me preparo para morrer sem lenda, sem metafísica
pois os homens são, sabem os bichos
os únicos seres que morrem e mais nada.

segunda-feira, outubro 06, 2008


Can you take me back where I came from
Can you take me back
Can you take me back where I came from
Brother can you take me back
Can you take me back?

quinta-feira, outubro 02, 2008

Da série: eu preciso postar no meu blog antes que o Blogger o extinga

Eu não aguento o cheiro da política. PT com Severino Cavalcanti. Democratas levantando a bandeira da ética. Kátia Teles prometendo congelar o preço dos bens em 'recife'. Vereadores prometendo agir como executivo federal. Só tem doido. Exílio na França, já. Aliás na França não, que lá as coisas andam pretas. Quero ir para Transilvânia. Pelo menos os vampiros de lá só sugam o sangue.
Pedra no Peito

Não adianta não, irmão
que a dor não passa não
em vão você se distrai

A sombra extensa da dor
no peito de quem andou
o avesso do mundo
não se desfaz

E quando a noite descer
e no peito você perceber
a anti-flor que brotou rapaz

Repare com atenção
no oco do coração
uma pedra imensa batendo em paz

Das músicas da década de 90

Duas décadas fazem parte do meu imaginário musical:

A década de 80 foi a descoberta da música pop. A tentativa de ouvir o que os adultos ouviam: A-HA, U2, Pet Shop Boys, Joy Division, Depeche Mode, Madonna, Titãs, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, White Snake, Kraftwerk. As fitas eram gravadas diratamente das rádios através de um som "Magnavox". Interessante ver meninos e meninas ouvindo bandas de hoje que seguem uma linha melódica minimalista e "menor", baseada, em parte, na década de 80.

A década de 90 foi minha adolescência e o início da maturidade. O fim do colégio e o início (a0 fim) da Universidade. Acho que ainda não assentou a poeira do tempo passado para eu racionalizar sobre o som dos 90´s.

Mas algumas frases musicais são lindas e me fazem sentir mais jovem quando as ouço:

"There are many things that I like to say to you, but I don´t know how"

"You know I´m such a fool for you"

(...)