quarta-feira, fevereiro 25, 2009


Haverá sempre uma quarta-feira a nos lembrar do final
que a felicidade não é desse mundo,
que essa cidade é um vale de sangue e de sombras
que a alegria é um pecado,
que o martírio é nossa bandeira

Mas o nosso peito que não se entrega à confissão
o nosso peito pagão
lançará confetes sobre nossas cabeças
no dia de se lavarem as cinzas
a esperança sagrada será substituída
pela terça-feira gorda
que será então a última a morrer

segunda-feira, fevereiro 23, 2009



Finda a tempestade, o sol nascerá (com uma raiva do caralho); ai dos que vão sem protetor solar

Sempre haverá o carnaval no meio desse blog


O Galo é para os loucos de todo o gênero, especificamente os que nasceram frevando

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Genuflexório


Na curva perigosa dos trinta
Encontrei o Zé Pelintra; que dor
O miserável do meu corpo se apossou
E libertou essa sede tão infinda, essa fome que
de tão grande já não cabe no catecismo da alma
Alma, alma, alma
Lobo sem dentes, macaca risonha
E esse cavalo manco a foder o peito de quem sonha

sábado, fevereiro 14, 2009

O Bode Dourado

Cabeça Branca é o nome do sujeito. Só o dedo de prosa vale o calor da Encruzilhada. Mas o percurso não termina nas palavras, o Bode Dourado tem e merece a fama do melhor bode de Recife. Comer bode é uma arte para poucos. O sabor não agrada a todos. Mas a base do sertão vem ali, no prato, dourado como diz o nome. Acompanhado do pirão. Da vinagrete. Da farofa. O dourado do nome está na capa que protege a maciez da carne, dourada, resultado de algum tempo no forno depois de ter sido amaciada na cocção.

Quando servido, o bode é crocante, com o sabor característico preservado, seja no pernil, seja na costela. Os ossos se acumulam no prato, que mimetiza um cemitério dos prazeres passageiros, sem nos dizer "nós, que aqui estamos, por vós esperamos". Não, é antes um cemitério da boa lembrança, do gosto da carne minuciosamente preparada.

A simplicidade do lugar é inversamente proporcional a grandeza do preparo do bode. Esse animal que resiste às intepéries da vida, do solo seco, a palo duro, mas felizmente domado pela nossa fome, pois triste do bicho que o homem come.

(PS - Depois do bode, sugiro o licor de cana de açúcar de Triunfo, gelado, doce, perigosíssimo).

Abraços, Edvaldo, ó cabeça branca.

Bode Dourado
Rua Dr. José Maria, 217, lojas 09 e 10.
Encruzilhada
Recife

domingo, fevereiro 08, 2009

Gastronomia - daqui para frente

Desde que eu abri o blog tenho escrito várias poesias, publicado coisas alheias, tentado escrever na net, o que eu não escrevo em livros, papéis. Sempre guardei em mim um assunto que gostaria de falar porque me toca de maneira especial e mui profunda. A gastronomia da minha cidade. Mas a gastronomia acessível. Que me faz acreditar que a comida na mesa revela o tanto de gente e bicho que há em nós. Que eleva à alma até a carne, porque alma pela alma não tem gosto de nada, nem de hóstia.
Logicamente não vou publicar receitas. Não tenho competência para isso. O que eu quero é desvelar caminhos que acabei conhecendo, por tanto amar me perder entre os sabores. É uma forma de tornar esse blog mais útil também. Poesia não enche barriga de ninguém. (rimou).

Ainda sobre João do Morro

Ano passado, escrevi um artigo sobre João do Morro. Aliás, sobre a censura que queriam fazer às suas músicas. Até hoje esse artigo rende comentários. Ao tentar demonstra que o cadinho marginal (à margem do oficial) que dá origem às letras das músicas de João do Morro é o mesmo que foi nascedouro de tantos sambas (de Noel Rosa à Lamartine Babo) dei espaço a interpretações que levaram meu discurso para um caminho que eu não havia seguido: o da comparação do samba de Noel Rosa com o samba de João do Morro. De vero, nunca quis comparar coisa com outra, até porque, para mim, os critérios de definição do que é arte e do que vale como arte ainda não foram bem definidos. Gosto de ouvir Noel Rosa. Tenho curiosidade pela música do João.
Ontem, no Guaiamum Treloso, tive a oportunidade de escutar novamente João do Morro. A música dele é de uma precariedade gritante. "Balaiagem" (sic) tem uma melodia copiada de tantas outras que seguem uma sequência maior-menor-maior. A letra tem lacunas propositais decorrentes da falta de intimidade com a língua.
Mas a originalidade e a verdade da letra de João do Morro sempre me surpreendem. E não tem teoria musical que me tire o sorriso do rosto.