sexta-feira, março 09, 2012
Catorze Anos
(Paulinho da Viola)
(à memória de Josué Mussalem, cujo aniversário foi ontem e que fez de tudo para que eu não virasse sambista)
Tinha eu 14 anos de idade
Quando meu pai me chamou (quando meu pai me chamou)
Perguntou se eu não queria
Estudar filosofia
Medicina ou engenharia
Tinha eu que ser doutor
Mas a minha aspiração
Era ter um violão
Para me tornar sambista
Ele então me aconselhou
Sambista não tem valor
Nesta terra de doutor
E seu doutor
O meu pai tinha razão
Vejo um samba ser vendido
E o sambista esquecido,
O seu verdadeiro autor
Eu estou necessitado
Mas meu samba encabulado
Eu não vendo não senhor
terça-feira, março 06, 2012
O Fim da Metafísica
Um dia eu guardei o infinito em uma gaveta
Na mesa do escritório, onde se acumula muito papel
Tempos depois, Dona Mira, que organiza minhas indeterminações
Espanou poeira de estrelas e o vento de muitas ilusões
Abriu a gaveta e me perguntou:
- Para quê tanto infinito, doutor? Só faz juntar teia de tempo e espaço
Acumula muito cansaço e a dor de muitas corações.
Eu não sabia responder
O infinito veio como um documento sem determinações
Eu não assinei nada, guardei-o junto a minha vida cansada
Com esperança de usá-lo para uma coisa qualquer.
A coisa não veio, a gaveta continua fechada
E o infinito – que transbordava em meu peito - hoje cabe
No espaço desqualificado de uma colher
Recanto
Não sou crítico. Não ouço músicas com ouvidos de crítico. Sou parcial com minhas referências, e extremamente desconfiado em relação ao novo. Mas já comentei, neste espaço, obras de artistas (ora compositores, ora cineastas) sem qualquer objetivo pré-definido senão constituir uma memorabilia para consulta futura, talvez eventual.
Uma das obras que comentei foi o disco “Cê” daquele que represente a minha maior influência musical. Lembro que, nos momentos que antecederam o lançamento da obra citada (op. cit.), havia uma expectativa que o Caetano Veloso lançasse um disco de samba. Para mim, seria bastante confortável, já que o samba é minha matéria prima, de um modo intuitivo: não é uma escolha, é um acontecer. Mas, contrariando tais expectativas, e para meu desconforto, Caetano lançou um disco de rock, ou algo bem próximo das experimentações dos seus novos parceiros musicais. Esse desconforto que eu senti foi sagrado. Responsável por vários questionamentos acerca dos caminhos que eu estava trilhando, como compositor.
Pensei que não sentiria esse desconforto novamente tão cedo. Ledo engano.
Utilizando-se (de forma sadia) daquela que representa parcela significante de sua voz, Caetano lançou “Recanto”, um disco personificado nela, naquela, Gal Costa. Essa minha redundância é justificada na dificuldade de se estabelecer quem é o titular da obra. Para mim, a obra é caetana. Gal Costa funciona como instrumento (imperfeito) desse novo mundo que me aparece como o Melancolia de Lars Von Trier: pronto para destruir os meus paradigmas. Mas Gal Costa não é apenas a voz; ela é a matéria prima que Caetano pegou para formatar sua novidade. Ela é musa e porta-voz.
Assim, “Recanto” é irmã bastarda de “Vaca Profana”. Só Gal poderia cantá-la com legitimidade artística.
Músicas difíceis e belas desafiam as minhas convenções, como o violão de sete cordas inserido nas programações. “Neguinho” processa as modificações pelas quais a música passou e que nos imaginamos imunizados, como se Caetano fosse um senhor contido que vivesse de suas glórias passadas. Não. Ele é tímido e espalhafatoso, ele é uma torre traçada por Gaudi. O menino messiânico de sua música resgatou a nós todos desse conforto malsão.
sábado, março 03, 2012
Hai Kai Metafísico
Deus. A ausência habita no ser,
Na churrascaria do corpo. A alma
É uma metáfora do que não se vê
Na churrascaria do corpo. A alma
É uma metáfora do que não se vê
Assinar:
Postagens (Atom)