terça-feira, julho 19, 2005

A vida sempre segue em frente

Saída de Santo Amaro

Sou um homem pequeno diante da porta
E deixo atrás de mim as circunstâncias e as devoções segredadas na cerâmica
Em cada cômodo fica um fantasma resignado da morte que é lembrança
Eu que nada sou senão esse caminho defronte

Ali, rezei uma reza; acolá, queimei os meus dedos
no canto da cama que ali havia suspeitei que a noite demoraria a passar
pedi paz e a paz não veio
Na parede da sala amalgamaram-se as unhas, a aliança e um poema
na cozinha fui visitado pelo meu avô. E o que é verdade e o que é mentira
foi lançado pela sala pelo vento do ventilador

Eu sou um homem pequeno diante da porta
E calo diante das vozes que tecem mudo ranger de sedas por detrás de mim
As confissões da alcova e o ponto final; a oração calada e o murmúrio do recomeço
Como dialogam bem as coisas que dissemos e o passado não se ressente, apenas o presente

A sala vazia está repleta de esperança, os quartos vazios buscam novos amores tácteis
Uma sede de coisa nova vai se assenhorando da casa
E meu coração resignado queda expulso, transformando a vida em lenda

As marcas dos meus dedos, as lascas de minha pele, os fios dos meus cabelos
A casa se despe de mim como se buscasse uma nova carne
Adeus, esse aceno de mão
Adeus, esse gemido na cama
Adeus, esse pesadelo abraçado com devoção
A casa está nua de mim e eu estou repleto de roupas antigas

Eu sou um homem pequeno diante da porta
Santo Amaro é maior que o Mundo só porque é meu
Eu não compreendo o ato de deixar e não voltar mais
E fico equilibrado neste fio armado entre o terror e a esperança

terça-feira, julho 12, 2005


dames
Posted by Picasa

Les trois dames dans rouge

(para ser lida e cantada como Terezinha de Jesus e referenciada à foto acima da direita para esquerda)


A primeira, como o sol
quis derrubar as minhas cortinas
quando eu via em tudo inverno
reinaugurou as minhas retinas

A segunda veio a mim
como uma alegria inesperada
e marcou-me a vida inteira
como uma vida tatuada

A terceira, como um anjo
reinventou minha existência
eu sou dela a carne e a alma
e ela, em mim, é minha essência

sexta-feira, julho 01, 2005

Mais um sambinha para o disco que eu juro que vai sair

Venha, moça, saia da janela
Que a flor mais bela, você não colheu
Estenda os braços para o que lhe agrada
Depois abra a guarda, para os braços meus

E venha como a aurora, destronada e bela
Saia da janela, deixe isso pra lá
Que eu tenho tanto amor pela alforria
Mas guardei meu dia para lhe entregar

E eu quero ver, esse dia acontecer, eu quero ver
Eu quero ver, esse dia amanhecer, eu quero ver