Amigo Glívio, esse final de semana fui a sua loja e a encontrei fechada. E o que é pior: aquelas risadas soltas que eu dei com meus amigos em noites de traspassamos o expediente comercial estavam abafadas. Não se ouviam mais. Perdi o passo de discorrer contigo sobre a permanência do vinil pelos seus ruídos e a condenação da pureza do laser (pois o puro deixemos para o paraíso, aqui convivemos com pecados saudáveis, como a gula).Perdi o sabor intuído do futuro que estava dormindo na sugestão perspicaz do amigo, sugestão para se comer a dois, como se costuma lá em casa.
Glívio, as transnacionais venceram? Como eu queria que suas ideologias tivessem vencido o meu pai naquele dia de portas cerradas, quando e onde eu não podia mais saborear a surpresa que você prepararia para nós, enquanto nos empanturrávamos de vinho (porque vinho também é comida), ao som de Billie (que hoje me permitirá chamá-la assim), no disco escolhido por você. Mas os cálculos do meu pai são imperdoáveis e, infelizmente, exatos como a maldita pureza do CD.
Mas o pior, o pior disso tudo, amigo Glívio, é que eu não tenho a menor idéia de como encontrar você, de como ligar pra você, de como dizer que a amizade é a mesma, de convida-lo para uma farra e preocuparmo-nos com isso amanhã. De dizer o quanto sua comida me ensinou.
Se você ler isso por alguma razão que desconheço, se você for trazido a esse mar dantes furioso, se você chegar nessa terra inventada pelas minhas sem-razões, manda um e-mail pra mim (amussalem@hotmail.com). Eu não sei cozinhar, mas o sabor da amizade é algo que eu gosto de temperar.
Forte abraço
André