Quando eu era criança
No tempo que minha janela dava para um pátio de escola
Meus olhos buscavam se fixar em um jogo de bola
Que se repetia sempre no mesmo horário
E eu admirava
Os jovens heróis que saíam do liceu
Davam as costas à cultura e à civilização
E repetiam o desdém de Esparta para com Atenas
Quando eu era criança
No tempo que minha janela dava para um pátio de escola
Meus olhos viam os jovens transcender suas circunstâncias
O tempo parava para saudar o jogo de bola
Ao nosso redor
uma inflação galopante corroia o tutano dos nossos pais
Não havia carne nos supermercados, nem nos nossos dentes
Homens se lançavam de prédios buscando a paz
Quando eu era criança
No tempo em que minha janela dava para um pátio de escola
José se lançava além de José, e tudo que importava era o gol
E eu admirava
Como quem assiste o extermínio de uma Tróia
Como quem é testemunha ocular de uma civilização esquartejada
Como um historiador que encontra um velho soldado
Como o escudeiro do maior de todos os heróis
Ao nosso redor
O povo clamava por eleições diretas
A língua inglesa colonizava as nossas refeições
As favelas mimetizavam a ousadia das marés
A casa com a janela não existe mais
alguém me disse que eu havia crescido
O que foi feito de José e dos outros heróis senão a realidade?
Eu descobri que as coisas aconteciam ao meu redor
As eleições diretas
O mar de favelas
José morto
É esse entorno de mim que me mata
segunda-feira, março 26, 2007
quarta-feira, março 21, 2007
Eu te disse...
Aí o Secretário Ariano Suassuna disse que quem escreveu a letra de uma música do Calypso era um "idiota, um imbecil". Eu tinha escrito anteriormente nesse blog que eleger um símbolo para administração da coisa pública poderia dar em má coisa. Sobremodo se esse símbolo é de um hermetismo em relação a formas de expressão artística que não as eleitas por si ou pelos seus.
Longe de mim lançar loas à música do Calypso. As letras são de uma precariedade simbólica que dispensa qualquer comentário mais aprofundado. A música é pobre dos seus arranjos à estrutura melódica. Mas quem sou eu para questionar a legitimidade dessa expressão musical? Sou versado em música? Sim, mas ainda assim não acho que esse fato em particular possa me dar um argumento de autoridade para questionar a legitimidade de uma música (ou de um gênero musical) quando o subconsciente da população está atrelado ao que eu não concordo como técnico.
Quero que fique claro: a crítica é legítima. O Secretário de cultura poderia dizer que esse gênero musical (se é que podemos algutinar as linhas do brega em um gênero) é pobre musicalmente, que suas letras se afastam da criatividade e da arte poética, ou ainda de manifestos inteligentes seja pela manutenção do status quo, seja pela superação do mesmo. O Secretário de cultura poderia sugerir que a população ouça outros gêneros musicais tecnicamente mais próximos do que seria a "bela-arte".
Mas o Secretário de cultura jamais poderia levar sua crítica a um grau de pessoalidade que o faz taxar de imbecil o compositor de uma canção imbecil. Esse discurso não condiz com o discurso de um Secretário de cultura. Condiz com o velho discurso de Ariano Suassuna que sempre elegeu seus requisitos e caminhos para se chegar em um conceito unívoco e válido de "arte". E aqueles que não se filiam a sua ditadura de requisitos e caminhos são idiotas e imbecis.
Longe de mim lançar loas à música do Calypso. As letras são de uma precariedade simbólica que dispensa qualquer comentário mais aprofundado. A música é pobre dos seus arranjos à estrutura melódica. Mas quem sou eu para questionar a legitimidade dessa expressão musical? Sou versado em música? Sim, mas ainda assim não acho que esse fato em particular possa me dar um argumento de autoridade para questionar a legitimidade de uma música (ou de um gênero musical) quando o subconsciente da população está atrelado ao que eu não concordo como técnico.
Quero que fique claro: a crítica é legítima. O Secretário de cultura poderia dizer que esse gênero musical (se é que podemos algutinar as linhas do brega em um gênero) é pobre musicalmente, que suas letras se afastam da criatividade e da arte poética, ou ainda de manifestos inteligentes seja pela manutenção do status quo, seja pela superação do mesmo. O Secretário de cultura poderia sugerir que a população ouça outros gêneros musicais tecnicamente mais próximos do que seria a "bela-arte".
Mas o Secretário de cultura jamais poderia levar sua crítica a um grau de pessoalidade que o faz taxar de imbecil o compositor de uma canção imbecil. Esse discurso não condiz com o discurso de um Secretário de cultura. Condiz com o velho discurso de Ariano Suassuna que sempre elegeu seus requisitos e caminhos para se chegar em um conceito unívoco e válido de "arte". E aqueles que não se filiam a sua ditadura de requisitos e caminhos são idiotas e imbecis.
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