terça-feira, abril 17, 2012

Iniludível



Hoje eu morri
Não fique triste, é um gesto natural
É necessário embrulhar-se a matéria vazia
No frio campo da terra. O húmus
Tornando-se o lugar natural das vísceras e dos sonhos
E eu, dando as mãos para as raízes das árvores, fico
Maior que a crença em todos os deuses

Quer acender uma vela?
Quer compor uma canção?
Não perca seu tempo. Leia um livro imenso.
Eu estarei lá.
Na batalha dos Sertões, nos olhos de Capitu.
Procure-me na descrença de Dimitri Karamázovi, em Diadorim.
Procure-me nos lugares insuspeitados da vida
Pois ao longo de toda a vida, eu nunca estive guardado dentro
de mim.

segunda-feira, abril 02, 2012

América



Lentamente a América profunda a mim se revela:
O vermelho dos seus filhos mortos no Oriente
O branco de sua paz refinanciada nos bancos do Brooklin
O azul de sua esperança perpétua em um deus que não vem


A América, puta imensa, vendida em espetáculos grandiosos
Ainda é menina, mas com peitos flácidos
De tanta boca a sugar-lhe o leite de ouro
Quanto custa meia hora com ela?
Na foto do passaporte eu não rio, nem nada




Um guianês me para: que América é essa? É sua?
Não, aqui não é minha casa
A oferta não me cega: sou velho
É esta a terra dos bravos chineses, vietnamitas
E a mãe liberdade segue defronte, encarcerada