Pois é
suas pernas traçando o samba
já pisaram delicadas
quando eu machucava o pinho
forjando a linha do pandeiro
você jurava ao madeiro
que o samba não lhe era nada
hoje és de todas rodas
menos da que lhe precedia
essa que lhe tocou um dia
e que você fingia não ouvir
quarta-feira, janeiro 26, 2005
terça-feira, janeiro 18, 2005
Tourada
Para falar bem a verdade, estou meio sem tempo de postar algo que valha a pena (com as escusas pela ausência de humildade). O engraçado é que fica uma cobrança estranha dentro de mim, como se eu fosse um leitor de mim mesmo. Para esse mim, digo algumas coisas: não é que eu esteja sem tempo por trabalho, dissertação, gravação, ensaios ou coisa que o valha. No fundo, no fundo é esse meu pensamento inafastável do carnaval. Eu só consigo pensar nas prévias, nos arranjamentos (existe esse anglicismo?) no que estar por vir; e é essa a melhor hora: a da existência iminente. Quando tudo é um quase desse mesmo tudo. Foi mal, mim. Para aliviar um pouco a cobrança, posto este poema inacabado. Difícil de ser construído. Mas o resultado de então vem me agradando muito. Então divido ele comigo. Até mais ver...
TOURADA
Isso, que me repudia, o matrimônio
Não entre a carne e a carne, mas a elegia
entre a carne e o aço, eu diria,
entre o touro e o braço à luz do dia
Isso, que me repudia, ou deveria, causar ânsia de vômitos ou apatia
Dantes me causa um assombro ou uma alegria
De ver em tal casamento a fidalguia
da união carne a carne à luz do dia
O touro, este esposo em fúria, de si avança
Para abraçar sua morte, febril se lança
Que o casamento na arena não guarda a vida
Mas une em antítese a carne a sua própria ferida
Que a arena é da vida a anti-vida, da parte a contra-parte
Onde há a união, mora o aparte
Onde nasce o homem, Deus encontra a morte
Onde encontras teu executor, eis o teu consorte
TOURADA
Isso, que me repudia, o matrimônio
Não entre a carne e a carne, mas a elegia
entre a carne e o aço, eu diria,
entre o touro e o braço à luz do dia
Isso, que me repudia, ou deveria, causar ânsia de vômitos ou apatia
Dantes me causa um assombro ou uma alegria
De ver em tal casamento a fidalguia
da união carne a carne à luz do dia
O touro, este esposo em fúria, de si avança
Para abraçar sua morte, febril se lança
Que o casamento na arena não guarda a vida
Mas une em antítese a carne a sua própria ferida
Que a arena é da vida a anti-vida, da parte a contra-parte
Onde há a união, mora o aparte
Onde nasce o homem, Deus encontra a morte
Onde encontras teu executor, eis o teu consorte
quarta-feira, janeiro 05, 2005
Trilha sonora para um filme
Plano aberto na Catedral de Veneza.Piazza San Marco. Fechando. Pombos voando. Intenção da câmera: sugerir que alguém se aproxima rapidamente pela revoada dos pombos. Ponto de chegada: alguém de costas. Surge uma mão que toca o "alguém de costas". Ele vira-se ao sentir o toque. Faz cara de surpresa e sorri. Inicia-se o diálogo.
(Ele): De todos os lugares do mundo, aqui era onde eu menos esperava encontrar você
(Ela): Que coincidência....eu te vi de longe e corri para ver ser era você mesmo...
(Ele): Você veio para cá com alguém?
(Ela): Com o meu marido...mas ele ficou no hotel. Tá morto de gripe. E você?
(Ele): Vim só...vim pagar uma promessa
(Ela): Aqui? Viajou isso tudo só para pagar uma promessa?
(Ele): É...na rota dos peregrinos...
(Ela): Você só é católico na Europa. Queria ver você pagando promessa em algum morro.
(Ele - sorrindo): Lua de mel?
(Ela): Curso de artes plásticas
(Ele): Então está no lugar certo...vi uns estudantes de arte desenhando naquela igreja que fica por detrás da Catedral
(Ela): Nossa Senhora da Saúde
(Ele): Essa mesmo...Lembrei de você, e veja que coincidência, depois de dois anos sem receber notícias suas dou de cara com você na Europa. Justamente na Europa.
(Ela - olha para o chão sorrindo)
(Ele): Bom...foi muito bom te ver...manda um alô para sua família...
(Ela): Papai faleceu...
(Ele - atônito) Quando? Como foi isso?
(Ela) Há uns dois meses. Estou fazendo essa viagem para respirar um pouco...
(Ele) Meu Deus...eu não sabia, sinto muito. Muito mesmo...eu tinha ainda tantas coisas para falar com ele
(Ela - chora)
(Ele - abraça ela): Ah...meu Deus.
(Ela) Acho que eu tinha que te encontrar aqui prá te dizer isso pessoalmente
(Ele) Desculpa....
(Ela) Desculpar o quê? Foi muito bom te encontrar aqui
(Ele) Depois de tanto tempo...eu até estranhei nós não termos nos encontrado antes.
(Ela) Não é estranho...? Era como se esse nosso laço não conseguisse se romper. Por mais que eu tentasse. Até que nós, esse nós, acabou sumindo por dois anos.
(Ele) Eu nunca entendi porque você nunca pôde conviver com esse laço. Ele sempre te incomodou.
(Ela) Não é isso. Eu só precisava viver uma vida diferente, sem aquele sufoco, sem o nosso passado, sem essa sombra gigantesca que não deixava eu mudar os meus cabelos...Eu precisava andar sem você
(Ele) E você andou...viveu, mudou, casou...
(Ela) andamos todos, não? Solitários, embora acompanhados. Andar só é extremamente necessário para que possamos saber de nós. Trilhar os nossos caminhos, nas nossas próprias rotas.
(Ele) Para acabarmos aqui
(Ela) Como assim?
(Ele) Nos encontrando solitários, nessa rota de peregrinos
(Ela - olha para o chão sem sorrir)
(Ele) Eu vou entrar na Catedral para pagar minha promessa...aqui termina minha demanda. Você vem?
(Ela) Eu tenho que voltar para o hotel...meu marido está muito gripado.
(Ele) Adeus
(Ela - só coloca o óculos escuros e se vira em direção do Canal)
(Ele): De todos os lugares do mundo, aqui era onde eu menos esperava encontrar você
(Ela): Que coincidência....eu te vi de longe e corri para ver ser era você mesmo...
(Ele): Você veio para cá com alguém?
(Ela): Com o meu marido...mas ele ficou no hotel. Tá morto de gripe. E você?
(Ele): Vim só...vim pagar uma promessa
(Ela): Aqui? Viajou isso tudo só para pagar uma promessa?
(Ele): É...na rota dos peregrinos...
(Ela): Você só é católico na Europa. Queria ver você pagando promessa em algum morro.
(Ele - sorrindo): Lua de mel?
(Ela): Curso de artes plásticas
(Ele): Então está no lugar certo...vi uns estudantes de arte desenhando naquela igreja que fica por detrás da Catedral
(Ela): Nossa Senhora da Saúde
(Ele): Essa mesmo...Lembrei de você, e veja que coincidência, depois de dois anos sem receber notícias suas dou de cara com você na Europa. Justamente na Europa.
(Ela - olha para o chão sorrindo)
(Ele): Bom...foi muito bom te ver...manda um alô para sua família...
(Ela): Papai faleceu...
(Ele - atônito) Quando? Como foi isso?
(Ela) Há uns dois meses. Estou fazendo essa viagem para respirar um pouco...
(Ele) Meu Deus...eu não sabia, sinto muito. Muito mesmo...eu tinha ainda tantas coisas para falar com ele
(Ela - chora)
(Ele - abraça ela): Ah...meu Deus.
(Ela) Acho que eu tinha que te encontrar aqui prá te dizer isso pessoalmente
(Ele) Desculpa....
(Ela) Desculpar o quê? Foi muito bom te encontrar aqui
(Ele) Depois de tanto tempo...eu até estranhei nós não termos nos encontrado antes.
(Ela) Não é estranho...? Era como se esse nosso laço não conseguisse se romper. Por mais que eu tentasse. Até que nós, esse nós, acabou sumindo por dois anos.
(Ele) Eu nunca entendi porque você nunca pôde conviver com esse laço. Ele sempre te incomodou.
(Ela) Não é isso. Eu só precisava viver uma vida diferente, sem aquele sufoco, sem o nosso passado, sem essa sombra gigantesca que não deixava eu mudar os meus cabelos...Eu precisava andar sem você
(Ele) E você andou...viveu, mudou, casou...
(Ela) andamos todos, não? Solitários, embora acompanhados. Andar só é extremamente necessário para que possamos saber de nós. Trilhar os nossos caminhos, nas nossas próprias rotas.
(Ele) Para acabarmos aqui
(Ela) Como assim?
(Ele) Nos encontrando solitários, nessa rota de peregrinos
(Ela - olha para o chão sem sorrir)
(Ele) Eu vou entrar na Catedral para pagar minha promessa...aqui termina minha demanda. Você vem?
(Ela) Eu tenho que voltar para o hotel...meu marido está muito gripado.
(Ele) Adeus
(Ela - só coloca o óculos escuros e se vira em direção do Canal)
segunda-feira, janeiro 03, 2005
Oração a Oxóssi
Neste ano cabalístico que se horizonta, com boas perspectivas na nossa frente, coloco no blog a oração de Oxóssi (meu orixá) que abrirá o disco do "Som na Caixa, Mané".
Oxóssi
Oxóssi Rei, meu Oxóssi Rei
Livrai-me das minhas mágoas
Livrai-me das minhas agonias
Eu abro com teu canto negro
Para que nessa terra reine a paz e a harmonia
Oxóssi Rei, meu Oxóssi Rei
Nesse tempo de bombas apátridas
O meu escudo é minha fé, é o meu guia
Fechai meu corpo para o que vejo e não percebo
Abri meu corpo para o consolo da alforria
Oxóssi Rei, meu Oxóssi Rei
Quando o teu arco e flecha
Glorificarem toda a minha infantaria
De que valerão os percalços da minha noite
De que valerão os percalços do meu dia
Oxóssi
Oxóssi Rei, meu Oxóssi Rei
Livrai-me das minhas mágoas
Livrai-me das minhas agonias
Eu abro com teu canto negro
Para que nessa terra reine a paz e a harmonia
Oxóssi Rei, meu Oxóssi Rei
Nesse tempo de bombas apátridas
O meu escudo é minha fé, é o meu guia
Fechai meu corpo para o que vejo e não percebo
Abri meu corpo para o consolo da alforria
Oxóssi Rei, meu Oxóssi Rei
Quando o teu arco e flecha
Glorificarem toda a minha infantaria
De que valerão os percalços da minha noite
De que valerão os percalços do meu dia
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