segunda-feira, agosto 20, 2007

ORECIC

Há uma demanda dos que me cercam direta ou indiretamente pelo significado de um boteco perdido no fim de uma rua desapercebida chamado ORECIC. A curiosidade é despertada toda vez que eu tracejo: “Vou ao ORECIC”, ou, de uma maneira mais gostosa, “Vou tomar uma no ORECIC”. A resposta é automática em todos os casos: “o que diabos é o ORECIC?”.
Ao explicar de maneira rápida e sem muitos detalhes que o ORECIC é o bar onde eu me reúno com os meus comparsas nas tardes do sábado, um mito inexplicável é criado. Para tantos e tantos, o ORECIC é um diamante incrustado no alheio dos que buscam os bares da moda; um cantinho familiar onde uma comida com tempero inenarrável é preparada, onde a cerveja é geladíssima, onde, às quintas, Cartola, Paulinho da Viola e Chico Buarque fazem uma roda de samba, e Camila Pitanga pega um avião completamente disfarçada só para sentar ao lado da gente e compartilhar da espuma do chopp geladíssimo vindo diretamente do Capela no Rio de Janeiro.
O ORECIC pode ainda ser um reduto gastronômico para iniciados, onde acepipes conservados em receitas familiares pernambucanas de gerações ancestrais permanecem inalteradas pela mão de ferro de uma grande cozinheira.
Muitos pedem para ir lá. Querem compartilhar do mistério que parece existir nessa palavra incompreensível, nessa mitologia que se alimenta das poucas palavras e do imaginário que rodeia essa instituição universal do ser humano: o bar.
Mas eu mantenho guardado a sete chaves esse meu assento sagrado, ainda que o ORECIC não seja nada disso, mas tão somente um lugar onde nos despimos de todas as convenções, gravatas, letras, gramáticas, físicas, matemáticas, sistemas, engenharias, bancos, automações. Onde somos reis de uma terra inóspita e nos orgulhamos do nossos títulos de digníssimos filhas de uma puta.