Eu, bancário, advogado, professor, burocrata
De unhas cortadas, caninos serrados
Cheirando a sabonete, alfazema, boa-fé
Limitado em meus braços por conta das gravatas
Desmatado nas pernas e nas vontades
Pelas motosserras das normas e do beijo conjugal
Hei de morrer sério, católico bucal
Para dar espaço a outro, que carimbará para além de mim
E quem me dera antes da morte
Libertar do meu peito aquele que eu era
Antes de existir civilizações e belas palavras
O meu deus das matas, meu senhor Oxóssi
Abrir a jaula dos lobos e dos vampiros
Morder a carne alheia e beijar a boca furtiva
Desdenhar do rato, do impressionismo e do perdão
Corromper com árvores a sífilis do amor eterno
Destronar dos filmes o final feliz
Andar porque andava e nem me dar por isso
Desculpar a tortura, a angústia e a opressão
Quem me dera morrer apenas como casca
E viver na vida a vida a que sempre disse não
quarta-feira, agosto 05, 2009
Lembranças de mundos encantados
Passei ontem na frente do prédio central dos correios. Veio-me uma lembrança alegre de quando era de poucos anos e lendo uma revista qualquer vi um anúncio de uma coleção de livros que se intitulava "Os Quatro Mundos Encantados de Walt Disney". Corri para minha mãe e disse aquilo que eu ouço repetidamente da boca da minha filha: "eu quero !" Minha mãe não relutou muito, visto que se tratava de uma coleção de livros e que isso me faria bem, afinal de contas, crianças não costumam pedir livros de presente.
A coleção não era vendida em livrarias. Apenas por pedido via correios e pagamento por boleto (visto que naquela época não havia internet e quejandos para facilitar a vida dos consumidores) a coleção quedaria acessível às crianças mais curiosas.
Foi minha primeira lição de paciência. O tempo naquela época corria com mais vagar: estradas velhas, estatismo exagerado dos caminhos que levam às comunicações.
Em um dia de sábado, meu pai me disse: vamos aos correios, seu presente chegou. Meu pai, sempre distante do meu mundo inventado, abriu a porta do carro rumo aos quatro mundos encantados de Walt Disney. Lembro do monumento que era o prédio dos correios. Colunas, mármore, gentes. Tudo me impressionou. Meu pai me pegou pela mão. Caminhou por entre os malotes, cartas. Eu sempre impressionado, de mãos dadas com meu pai. O malote veio em papel marrom. Pesado. Era uma coleção, afinal. Em casa, larguei a mão de meu pai e rasguei com voracidade o papel marrom, adentrando naquele chamado mundo encantado. E quanto de encantamento havia: nomes de bichos, estórias centenárias, segredos científicos, fábulas e mais fábulas. Eu me lembro que, por um instante, eu senti que dominava os segredos do universo. Lembro dos desenhos. Lembro das páginas e das letras. Lembro de quão era grande e belo o prédio dos correios.
Mas disso tudo, em meio a fábulas e bichos, a coisa de que mais me lembro é da força firme da mão de meu pai.
A coleção não era vendida em livrarias. Apenas por pedido via correios e pagamento por boleto (visto que naquela época não havia internet e quejandos para facilitar a vida dos consumidores) a coleção quedaria acessível às crianças mais curiosas.
Foi minha primeira lição de paciência. O tempo naquela época corria com mais vagar: estradas velhas, estatismo exagerado dos caminhos que levam às comunicações.
Em um dia de sábado, meu pai me disse: vamos aos correios, seu presente chegou. Meu pai, sempre distante do meu mundo inventado, abriu a porta do carro rumo aos quatro mundos encantados de Walt Disney. Lembro do monumento que era o prédio dos correios. Colunas, mármore, gentes. Tudo me impressionou. Meu pai me pegou pela mão. Caminhou por entre os malotes, cartas. Eu sempre impressionado, de mãos dadas com meu pai. O malote veio em papel marrom. Pesado. Era uma coleção, afinal. Em casa, larguei a mão de meu pai e rasguei com voracidade o papel marrom, adentrando naquele chamado mundo encantado. E quanto de encantamento havia: nomes de bichos, estórias centenárias, segredos científicos, fábulas e mais fábulas. Eu me lembro que, por um instante, eu senti que dominava os segredos do universo. Lembro dos desenhos. Lembro das páginas e das letras. Lembro de quão era grande e belo o prédio dos correios.
Mas disso tudo, em meio a fábulas e bichos, a coisa de que mais me lembro é da força firme da mão de meu pai.
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