quarta-feira, agosto 12, 2009

Oxóssi

Eu, bancário, advogado, professor, burocrata
De unhas cortadas, caninos serrados
Cheirando a sabonete, alfazema, boa-fé
Limitado em meus braços por conta das gravatas
Desmatado nas pernas e nas vontades
Pelas motosserras das normas e do beijo conjugal
Hei de morrer sério, católico bucal
Para dar espaço a outro, que carimbará para além de mim

E quem me dera antes da morte
Libertar do meu peito aquele que eu era
Antes de existir civilizações e belas palavras
O meu deus das matas, meu senhor Oxóssi
Abrir a jaula dos lobos e dos vampiros
Morder a carne alheia e beijar a boca furtiva
Desdenhar do rato, do impressionismo e do perdão

Corromper com árvores a sífilis do amor eterno
Destronar dos filmes o final feliz
Andar porque andava e nem me dar por isso
Desculpar a tortura, a angústia e a opressão

Quem me dera morrer apenas como casca
E viver na vida a vida a que sempre disse não