quarta-feira, agosto 05, 2009

Lembranças de mundos encantados

Passei ontem na frente do prédio central dos correios. Veio-me uma lembrança alegre de quando era de poucos anos e lendo uma revista qualquer vi um anúncio de uma coleção de livros que se intitulava "Os Quatro Mundos Encantados de Walt Disney". Corri para minha mãe e disse aquilo que eu ouço repetidamente da boca da minha filha: "eu quero !" Minha mãe não relutou muito, visto que se tratava de uma coleção de livros e que isso me faria bem, afinal de contas, crianças não costumam pedir livros de presente.
A coleção não era vendida em livrarias. Apenas por pedido via correios e pagamento por boleto (visto que naquela época não havia internet e quejandos para facilitar a vida dos consumidores) a coleção quedaria acessível às crianças mais curiosas.
Foi minha primeira lição de paciência. O tempo naquela época corria com mais vagar: estradas velhas, estatismo exagerado dos caminhos que levam às comunicações.
Em um dia de sábado, meu pai me disse: vamos aos correios, seu presente chegou. Meu pai, sempre distante do meu mundo inventado, abriu a porta do carro rumo aos quatro mundos encantados de Walt Disney. Lembro do monumento que era o prédio dos correios. Colunas, mármore, gentes. Tudo me impressionou. Meu pai me pegou pela mão. Caminhou por entre os malotes, cartas. Eu sempre impressionado, de mãos dadas com meu pai. O malote veio em papel marrom. Pesado. Era uma coleção, afinal. Em casa, larguei a mão de meu pai e rasguei com voracidade o papel marrom, adentrando naquele chamado mundo encantado. E quanto de encantamento havia: nomes de bichos, estórias centenárias, segredos científicos, fábulas e mais fábulas. Eu me lembro que, por um instante, eu senti que dominava os segredos do universo. Lembro dos desenhos. Lembro das páginas e das letras. Lembro de quão era grande e belo o prédio dos correios.
Mas disso tudo, em meio a fábulas e bichos, a coisa de que mais me lembro é da força firme da mão de meu pai.