terça-feira, maio 18, 2010

ANDOR

O amor nos provém de armadilhas
redondilhas, meandros, discussões
é o toque além do seu sabor
mas se me pedes prá ficar, não vou

O amor é deveras traiçoeiro
põe espada onde primeiro era paixão
põe teu sim no meu não, deserto em flor
e se me pedes prá ficar, não vou

O amor por ser mudo, às vezes cala
por ser cego, na mira, às vezes erra
por ser surdo não ouve o coração

Mas o amor por ser tudo, em nós nos fala
por ser luz, abre seus olhos em quimera
por ser nosso, preenche a amplidão

Meu amor me aceite irrestrito
pois meu grito é a véspera do beijo
eu prometo descer do meu andor
e se me pedes prá ficar, não vou
se me pedes prá ficar, não vou
se me peder prá ficar, não vou

domingo, maio 09, 2010

O Som do Meu Medo

Quando passei quarenta dias no deserto
Sentado à margem dos meus medos e desejos
O diabo não me disse nada
Apenas me olhou e seus olhos eram castanhos
Não me ofereceu banquete, talheres de prata em rara cascata
Animais plenos de sabor e doçura enfileirados na oferta à minha língua
Calado ficou a olhar para mim

Não abriu seus dedos e convocou todas as potestades
Não me prometeu revelar a matéria inexata e imperfeita
Que é cimento e areia da coisa fêmea
Não me assegurou qualquer milagre
Sequer tirou uma moeda por detrás da minha orelha

Entre nós não havia o Mundo, apenas o silêncio

O silêncio que é a maior de todas as tentações

quarta-feira, maio 05, 2010

No dia em que fui mais feliz


D.R.

Preciso esquecer você. Como continuar vivendo se nossa relação é o mais sublime dos gozos e a mais dolorosa das torturas? Que homem foi forjado para suportar essa oscilação de sentimentos, ao sabor do inevitável, da sorte, do fortuito? Eu quero fazer o meu leito na racionalidade, dormir nos ombros da segurança, sem a necessidade de prever o futuro, porque o presente está em minhas mãos. Com você, o futuro a deus pertence. Deus é sempre uma incógnita. O presente não diz nada. Eu brigo com meus irmãos, por sua causa. Eu grito na madrugada palavras que nunca pensei em proferir no secreto dos meus medos. Em vão, eu tateio um conforto, uma paz qualquer que assole meu espírito e me mantenha na calmaria da mediocridade. Em vão. Você vem com todo terror e benção de uma tempestade e me deixa lançado ao hiato armado entre o fio da esperança e a lágrima incontida. Você me deixa nu nas hordas do inimigo e armado no seio do meu exército. Você me faz o homem pleno de felicidade mundana e o mais miserável dos mendigos na noite silenciosa dos fogos alheios. Eu preciso esquecer você. Futebol, eu preciso me desapaixonar por você.