Quando passei quarenta dias no deserto
Sentado à margem dos meus medos e desejos
O diabo não me disse nada
Apenas me olhou e seus olhos eram castanhos
Não me ofereceu banquete, talheres de prata em rara cascata
Animais plenos de sabor e doçura enfileirados na oferta à minha língua
Calado ficou a olhar para mim
Não abriu seus dedos e convocou todas as potestades
Não me prometeu revelar a matéria inexata e imperfeita
Que é cimento e areia da coisa fêmea
Não me assegurou qualquer milagre
Sequer tirou uma moeda por detrás da minha orelha
Entre nós não havia o Mundo, apenas o silêncio
O silêncio que é a maior de todas as tentações