sábado, junho 26, 2010

Seculorum

Quando me falam do século passado,
Frequentemente caio nessa dúvida: de que século falam?

Do século vinte? Com seus hiatos armados entre o terror e o sublime
O século vinte dos ratos que surgiam dos escombros
E me contavam histórias de extermínio e de grandes amores

Do século dezenove? Com sua assepsia imperial a tapar o túmulo de Deus
O século dezenove quando os grandes homens eram possíveis
E pairava no ar uma esperança de curar todas as doenças

O século dezenove sem qualquer contradição
O século vinte que, ao nascer, proclamou: eu morri
Que século passou por mim e me antecedeu?
Que porta se fechou por detrás de mim e não percebi?

Eu aqui no século vinte e um, sinto-me como um sinal neutro em relação a tudo
Nada me pertence, nem agora, nem no futuro
Sou como algo nunca criado ou nunca disposto a se reinventar
E para além de todas as contingências, permaneço alheio ao mundo
Enquanto meus filhos constroem um século para além de mim

Difícil ofício esse, de pertencer a um século.

quinta-feira, junho 17, 2010


segunda-feira, junho 14, 2010

A Morte do Jogo

“O atrativo do jogo, a fascinação que exerce, reside justamente no fato de que o jogo se assenhora do jogador.”

Gadamer, Verdade e Método.

Pour Lucas,

O modo de ser do jogo é sua fluidez. O jogo deve ser jogado. Segurar o jogo, não deixá-lo, é o anti-jogo, o não acontecer. A bola está presa no único esquema tático das seleções e das nações, pasteurizadas na preocupação excessiva com a defesa e exterminando a diversidade dos povos que nos encantava a cada quatro anos de copa. Os times africanos, os sul americanos, os asiáticos: todos são europeus, excessivamente europeus.
Meninos pretos de cabelos loiros e olhos azuis: o capital domesticou a criatividade e o que importa não é mais o jogo em si, mas a forma como se joga o jogo. O esquema tático se sobressai e domina o impulso de furar as barreiras inimigas; o impulso que é um monstro pré-cristão que não se apieda de nada.
O resultado é o descrédito no próprio jogo que se vê órfão de gols e de um deus-herói, um ponta de lança que atravesse o campo e entre como projétil trave adentro, erguendo as mãos para o céu em uma língua desconhecida.
Só um deus pode nos salvar.
Não há meio campo criativo, não existe o atacante imperial, a força física abafa a molecagem, o drible diabólico do menino crescido em várzea ou em rincão distante. É o genocídio dos reis, dos anjos de pernas tortas, das laranjas mecânicas, das tribos de verdadeiros guerreiros. É o elogio das academias, dos computadores, dos tecidos e das malhas criadas após anos de pesquisa. A assepsia venceu a lama. Mas da assepsia não se ergue a vida; da lama sim.
Aos poucos, vamos contentando-nos com essa postura tímida, de recuo, de parede. Ficamos esperando a vinda messiânica desse jogo que fluirá para além dos esquemas táticos excessivamente defensivos que se manifesta como um simulacro do que, um dia, nós chamamos de futebol.

sábado, junho 12, 2010

Fogo do Sol, Carne da Lua (ontem e hoje)




Young hearts run free (Valentine´s day)

No Second Troy (W. B. Yeats)


WHY should I blame her that she filled my days
With misery, or that she would of late
Have taught to ignorant men most violent ways,
Or hurled the little streets upon the great.
Had they but courage equal to desire?
What could have made her peaceful with a mind
That nobleness made simple as a fire,
With beauty like a tightened bow, a kind
That is not natural in an age like this,
Being high and solitary and most stern?
Why, what could she have done, being what she is?
Was there another Troy for her to burn?