quinta-feira, junho 30, 2011

Clara, Chris e eu

http://www.youtube.com/watch?v=oEn2T1dDsB4

Momento Gastronomia: Mocó

Acho que eu sou a primeira pessoa a falar sobre o Mocó. O Mocó é um segredo tão bem escondido que alguns juram que se trata de mais uma lenda urbana. Tratarei deste texto, portanto, como uma dessas fábulas que minha filha consome com os olhos brilhando querendo
em uma vontade tão lúdica que seja a mais pura das verdades.

Dizem que Marcílio de Pádua, chef de cozinha talhado pelas mãos do mundo, depois de tanto andar na contramão da rotação, resolveu aceitar uma paragem e construiu para si um bocadinho de lugar que lhe permitisse alterar a lei do cotidiano. Que lei? A lei que determina as formalidades dos ternos, das gravatas, dos extratos, dos contratos, das notas fiscais. Marcílio deu uma ordem "fiat pax", e tudo aquilo que irrompe como as amarras da modernidade dissolveu-se na entresala do Mocó.

Lá, só existe uma lei: coma como se sua vida existisse para o prazer da gastronomia. Seja um epicurista, pão e vinho. Aceite a cerveja como consequência inasfastável de algo que começou na Suméria há milhares de anos atrás. Coma aquilo que se lhe oferece, cozido a fogo lento, com açúcar, com afeto. Pode ser um joelho de um porco. Pode ser um peixe sob o manto de uma manteiga preta. Pode ser um sarapatel, pode ser um cozido legitimamente madrilenho.

Pode ser tudo que sua imaginação permitir, como nos sonhos.

Onde fica? Perto das terras de São Serapião, no descanso do Cálice Sagrado, à direita da Ilha de Avalon. Talvez fique perto da minha casa, mas sempre encoberto pelo desejo de se mostrar apenas àqueles que carregam na vida a certeza de que a felicidade se mastiga.

Da Solitude (letra Rodrigo Pinto, música André Mussalem)

Está chovendo na cidade
E eu moro nessa cidade há tanto tempo
Mas nunca vi chuva assim
Tão limpa, tão pura, tão mágica
Água benta que carrega todo concreto e a tristeza e a mentira
Da boca dos homens

Homens que se protegem
Da chuva e da dor
E eu quero que essa chuva me molhe
Que me transforme, me purifique, me reanime
Para a realidade seca que vem com o céu lavado

Minha carne pouca e fraca
Teme a tristeza do escuro que me cerca
Meus pés já não tocam o chão
Em vão as mãos suplicam em prece
E é de sonho e de desejo

Soa no peito o eco de apelos
Por breves sorrisos de alento
Meu corpo é um baú escuro
E no fundo, jaz um coração
E eu quero ser limpo e suave
Como a chuva da tarde

Mas ele disse: “não tenho em quem pensar
Volto prá casa vazio”
E ela me disse: “desejo mesmo voar
Que nem passarinho”



PS - Letra escrita em 1994 por Rodrigo e musicada por mim em 2011. Parte do projeto Antology da Banda que poderíamos ter sido mas nunca fomos.