Na mão direita levo uma trena, na esquerda uma arma:
A trena me foi dada pelo leve suspiro da minha mãe
É com ela que meço minhas escolhas, o centímetro da minha passada
Quando me ofertam coisas sem medidas, e o tamanho do dia é quase infinito
Com a paciência do arquiteto divido a carne, o beijo escondido sob as causas remotas
(Pois tudo na vida tem o seu centímetro)
Todo joio é igual ao trigo quando nele vemos apenas uma polegada
A trena na mão é a lembrança perene
Que o todo de nós é apenas uma mentira aos pedaços contada
A arma é o quinhão da ausência do meu pai
Mas ela não atira, está calada
Há muito que não conhece pólvora, caça,
Perdeu-se de seus cadáveres catequizados pela bala
Com ela eu estanco frente ao espelho
Enquanto eu vigio a paz, inominada
A arma na mão é a perpétua memória
Que a morte virá de dentro para fora, sem me dizer nada