Lembra desse poema? Achei mexendo em umas coisas aqui em casa...amanhã eu vou para o Rio. Nesse meio tempo, fica bem tá? Quando eu voltar faço um samba prá você. Caço vaga-lumes no quintal prá fazer você rir. Encho o seu copo de cerveja, e não deixo ela esquentar. Tiro você da dieta. Conto piada sem-graça. Vou até o Araguaia tecer um país só prá você.
Beijo, Lou.
Acorda Luciana
Acorda Luciana, acorda anjo meu
Há uma menina dormindo com os olhos que são teus
Há um corpo velando um corpo que não quer acordar
Há um sonho estranho que não se pode querer sonhar
Há um sangue parado na veia que quer se mover
Há um beijo roubado na boca que está por se ter
Há uma banda lá fora, tocando uma muda canção
Há uma batida mais forte esperando o teu coração
Há um deus cabisbaixo, esperando uma oração para ele
Há uma alma intranqüila esperando, morte, carne e pele
Há uma seca lá fora, (será lá fora que se dá o agreste?
Ou será aí dentro, que a terra seca o verde veste?)
Há uma coisa escondida, que sequer sei nomear
Mas que guardas aí dentro, esperando você mesma acordar
Uma coisa que não tem peso, mesura ou tradição
É sequer uma presença, é sequer consubstanciação
São as suas reticências, é a sua imperfeição
A beleza de se estar incompleto, o si em sempre construção
Acorda, para isso, Luciana, acorda anjo meu
Há uma menina dormindo um sono que não é teu
quarta-feira, novembro 24, 2004
segunda-feira, novembro 22, 2004
Eu, a sombra
Meus braços, perdi-os ao acenar para um barco
meus olhos, fecharam-se ao ver beleza demais naquilo que não podia se enxergar
minha boca selou um choro e nunca mais abriu
minhas pernas ficaram na ante-sala da competição como memorial ao que sequer tentei
meus pés se afundaram nas pegadas deles mesmos
e meus cabelos e minhas unhas e minhas pupilas, tudo deixei ao sair de casa numa segunda-feira
Mas a minha sombra, essa que transcende o meu corpo
que me lembra que eu permaneço até quando estiver em meu caixão
fica como cicatriz inexistente em corpo-quase-nada
a sombra fica como o melhor que nunca existiu em mim
meus olhos, fecharam-se ao ver beleza demais naquilo que não podia se enxergar
minha boca selou um choro e nunca mais abriu
minhas pernas ficaram na ante-sala da competição como memorial ao que sequer tentei
meus pés se afundaram nas pegadas deles mesmos
e meus cabelos e minhas unhas e minhas pupilas, tudo deixei ao sair de casa numa segunda-feira
Mas a minha sombra, essa que transcende o meu corpo
que me lembra que eu permaneço até quando estiver em meu caixão
fica como cicatriz inexistente em corpo-quase-nada
a sombra fica como o melhor que nunca existiu em mim
sexta-feira, novembro 19, 2004
sábado, novembro 13, 2004
Mestre
a Souto Maior Borges
No hiato de mim-a-ti uma estrada continua se construindo
nela, aquilo que nos constitui esse aperto de mão que me desses:
um livro não lido
uma xícara quebrada
o lençol amassado ainda na madrugada suada
os homens que invadem e amanhecem em Kabul
As palavras são abstratas, as fórmulas, o cancioneiro
Mas nós mesmos...não somos nós a perspectiva de um que nos viu?
Não somos nós um rastro de linguagem que aprendeu a falar de si?
Em vão tento me tocar, tocarei outro, ainda que o outro seja eu mesmo
E se tu se esqueceres de mim, terei eu existido para o mundo que permancerá no após de mim e de ti?
Eu, abstrato como a coisa abstrata que intuo por coisa real
Coisas, coisas, coisas...as coisas quedam suspensas mas nós nos movemos
rumo ao mar de alma que separa os dois portos de carne
Mestre, eu recebo teu navio de joelhos
Recebe em ti a frustração dos náufragos e a tristeza dos que vieram recepcioná-los
É apenas isso que posso atracar em ti.
No hiato de mim-a-ti uma estrada continua se construindo
nela, aquilo que nos constitui esse aperto de mão que me desses:
um livro não lido
uma xícara quebrada
o lençol amassado ainda na madrugada suada
os homens que invadem e amanhecem em Kabul
As palavras são abstratas, as fórmulas, o cancioneiro
Mas nós mesmos...não somos nós a perspectiva de um que nos viu?
Não somos nós um rastro de linguagem que aprendeu a falar de si?
Em vão tento me tocar, tocarei outro, ainda que o outro seja eu mesmo
E se tu se esqueceres de mim, terei eu existido para o mundo que permancerá no após de mim e de ti?
Eu, abstrato como a coisa abstrata que intuo por coisa real
Coisas, coisas, coisas...as coisas quedam suspensas mas nós nos movemos
rumo ao mar de alma que separa os dois portos de carne
Mestre, eu recebo teu navio de joelhos
Recebe em ti a frustração dos náufragos e a tristeza dos que vieram recepcioná-los
É apenas isso que posso atracar em ti.
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