segunda-feira, novembro 22, 2004

Eu, a sombra

Meus braços, perdi-os ao acenar para um barco
meus olhos, fecharam-se ao ver beleza demais naquilo que não podia se enxergar
minha boca selou um choro e nunca mais abriu
minhas pernas ficaram na ante-sala da competição como memorial ao que sequer tentei
meus pés se afundaram nas pegadas deles mesmos
e meus cabelos e minhas unhas e minhas pupilas, tudo deixei ao sair de casa numa segunda-feira

Mas a minha sombra, essa que transcende o meu corpo
que me lembra que eu permaneço até quando estiver em meu caixão
fica como cicatriz inexistente em corpo-quase-nada
a sombra fica como o melhor que nunca existiu em mim