sábado, novembro 13, 2004

Mestre

a Souto Maior Borges


No hiato de mim-a-ti uma estrada continua se construindo
nela, aquilo que nos constitui esse aperto de mão que me desses:
um livro não lido
uma xícara quebrada
o lençol amassado ainda na madrugada suada
os homens que invadem e amanhecem em Kabul

As palavras são abstratas, as fórmulas, o cancioneiro
Mas nós mesmos...não somos nós a perspectiva de um que nos viu?
Não somos nós um rastro de linguagem que aprendeu a falar de si?
Em vão tento me tocar, tocarei outro, ainda que o outro seja eu mesmo
E se tu se esqueceres de mim, terei eu existido para o mundo que permancerá no após de mim e de ti?
Eu, abstrato como a coisa abstrata que intuo por coisa real

Coisas, coisas, coisas...as coisas quedam suspensas mas nós nos movemos
rumo ao mar de alma que separa os dois portos de carne
Mestre, eu recebo teu navio de joelhos
Recebe em ti a frustração dos náufragos e a tristeza dos que vieram recepcioná-los
É apenas isso que posso atracar em ti.