terça-feira, dezembro 07, 2004

Rio

Por diversas vezes tentei traduzir - na forma de um poema - um Rio de Janeiro idílico, que resultou do meu encantamento ao ver a cidade. A tradução não veio, e eu não me permiti lutar com as palavras para apressar um poema que, com certeza, um dia virá. A relação do homem com a urbes é uma relação quase matrimonial; de intimidade devassada mesmo. É preciso ódio, amor, encantamento, casamento e divórcio; desejo e repulsa, para se escrever com propriedade sobre algo que foi construído para nos limitar em sua própria liberdade. Não tenho isso do Rio. Não tive tempo, foi só um beijo passageiro, um amor à distância. Quem sabe um dia, morando lá, possa eu fazer propriamente um poema sobre o Rio?

Posso falar das minhas impressões: pois foi no Rio que pude entender propriamente Machado de Assis. Só lá é possível uma Capitu. Só lá é possível essa sensação de que se busca um desejo a cada segundo. Só lá eu pude conviver mais com o seculo XIX do que aqui em Recife... e talvez isso já seja um poema. Machado de Assis não seria ele mesmo se não tivesse nascido no Rio, vivido no Cosme Velho. Há um quê de naturalismo nessa minha constatação, e não é à tôa. Só no Rio eu pude entender Aluísio Azevedo.

Mas deixemos disso por ora, meu caro amigo. O Rio é uma menina bonita pegando um ônibus no subúrbio, pensando nas contas que ela tem para pagar....e em algum lugar, um poema meu está guardado em um porta-jóias feito a mão.