terça-feira, março 29, 2005
Aqui, noutro reino
Uma das coisas boas de se perder no mar, é matar um pouco do continente que sufoca a alma com seus pedregulhos de asfalto e brita. Acho que por isso fui para lá. Aconselho a todos que querem saber como a vida deveria ser aqui no Brasil. Muita vagabundagem e ócio criativo. Muito sol e gente sorrindo. Cheiro de mato e de mar. Coisas da terra, mixiras. Um travo de caju e o mel do bolo de rolo a confundir o palato. Uma rede para não pensar em nada, nem mesmo em pensar o pensar. Se o português é uma chuva observada de uma torre, o brasileiro é um mar azul em uma tarde que caindo dá outra cor à casinha praieira que ninguém sabe de quem é. Volto prá lá um dia...prá ler o poema de Paulo Leminski que enfeita a sala de jantar:
"Aqui, nesta pedra
alguém parou para olhar o mar
O mar não parou para ser olhado
foi mar prá tudo o quanto é lado"
Nada mais digo; convido: www.aldeiabeijupira.com.br
"Aqui, nesta pedra
alguém parou para olhar o mar
O mar não parou para ser olhado
foi mar prá tudo o quanto é lado"
Nada mais digo; convido: www.aldeiabeijupira.com.br
segunda-feira, março 28, 2005
Quando Lisboa acordar
Há exatamente dez anos atrás, eu pisava pela primeira vez Lisboa. Desde então iniciei com Portugal uma relação tão intensa que chego a sentir na minha genética a familiaridade das coisas e das gentes que estão a um oceano de distância. Quis o bom ou mau destino que justamente este ano eu não mate a saudade tão portuguesa da terra que não é minha. Talvez seja uma dessas ironias finas que passeiam pela obra de Eça de Queiroz; ironia do destino, que é mais irônico que as gentes. Mas carrego comigo a permanência da alma portuguesa, tronco do meu espírito. Fico então a dedilhar o violão que comprei no Rossio, tendo como estrada fronte não o concreto do mundo, mas meu único e inafastável étimo.
Que pode fazer um brasileiro senão comprar o último disco do Madredeus e a Box dos Maias? Ou ainda...escrever coisas assim:
Ai de minh´alma que nasceu tão portuguesa
E vive imersa na tristeza por não conhecer outro mar
Assenhora-se de tudo e de tudo tem saudades
Até mesmo das novidades que nem veio a conhecer
Ai de minh´alma que nasceu tão portuguesa
E se afasta da beleza para poder se entristecer
Tem por tudo que lhe é aparte a semente do seu mal
E não conhece maior alegria que ser triste em Portugal
Que pode fazer um brasileiro senão comprar o último disco do Madredeus e a Box dos Maias? Ou ainda...escrever coisas assim:
Ai de minh´alma que nasceu tão portuguesa
E vive imersa na tristeza por não conhecer outro mar
Assenhora-se de tudo e de tudo tem saudades
Até mesmo das novidades que nem veio a conhecer
Ai de minh´alma que nasceu tão portuguesa
E se afasta da beleza para poder se entristecer
Tem por tudo que lhe é aparte a semente do seu mal
E não conhece maior alegria que ser triste em Portugal
quarta-feira, março 16, 2005
Aula de Física
Suponhamos um rapaz, condições normais de temperatura e pressão
a constante da velocidade a incidir sobre ele
o tempo instável a dividir em dois o volume da massa
O que ele pode fazer, senão continuar e continuar
E ter amado o equívoco e desfeito o passado
E retomado o caminho até refazer o cálculo
Que fórmula de física ninguém acerta de primeira
a constante da velocidade a incidir sobre ele
o tempo instável a dividir em dois o volume da massa
O que ele pode fazer, senão continuar e continuar
E ter amado o equívoco e desfeito o passado
E retomado o caminho até refazer o cálculo
Que fórmula de física ninguém acerta de primeira
segunda-feira, março 14, 2005
Hai-Kai para Mari
Neve nos cedros
na terra quente vejo:
o que há só no desejo
Para Mariana, pela saudade que sinto e que foi atenuada um pouco na semana que passou. Hai-kai é a sua cara, Milady...tentei fazer um tradicional, com o promeiro degrau do imutável, o segundo do fenômeno e o terceiro, da síntese. Só transbordei nas sílabas; mas o carinho é todo oriental.
na terra quente vejo:
o que há só no desejo
Para Mariana, pela saudade que sinto e que foi atenuada um pouco na semana que passou. Hai-kai é a sua cara, Milady...tentei fazer um tradicional, com o promeiro degrau do imutável, o segundo do fenômeno e o terceiro, da síntese. Só transbordei nas sílabas; mas o carinho é todo oriental.
quinta-feira, março 10, 2005
Fatwa
Hoje eu saio para conquistar o mundo, mas o mundo não me interessa
Homens me oferecem desejos embrulhados em papel translúcido, mas não pararei
uma criança gritou, confusa e insana, "ladrão", mas não olharei, ainda que o grito tenha sido para mim
Um demônio me leva ao topo da montanha, mas não sou Cristo, fica para outra hora
Deuses me oferecem o panteão da literatura, mas as palavras me escapam para a boca de outro, não, não posso parar
A morte me convida para juntar-me a mim-descoberto e me inteirar enfim (hoje não, hoje não posso)
Deputados, Ministros, Homens-de-si-para-si...não posso parar
Algo aconteceu, carrego em minhas mãos um presente
Nada mais me interessa, a não ser a entrega e o aceite
No outro lado de mim, ela me espera de braços abertos:
"toma", digo ao deixar para trás uma Enciclopédia escrita por 29 anos
E o mundo recomeça nesse primeiro ano de uma meia vida inteira:
Que belas, minha bela, são as coisas refeitas
PS - Feliz aniversário para nós dois, meu amor. Se você pedir baixinho (como sempre faz, antes de dormir) eu lerei um poema de Fernando Pessoa para você. Fogo do sol, carne da lua.
Homens me oferecem desejos embrulhados em papel translúcido, mas não pararei
uma criança gritou, confusa e insana, "ladrão", mas não olharei, ainda que o grito tenha sido para mim
Um demônio me leva ao topo da montanha, mas não sou Cristo, fica para outra hora
Deuses me oferecem o panteão da literatura, mas as palavras me escapam para a boca de outro, não, não posso parar
A morte me convida para juntar-me a mim-descoberto e me inteirar enfim (hoje não, hoje não posso)
Deputados, Ministros, Homens-de-si-para-si...não posso parar
Algo aconteceu, carrego em minhas mãos um presente
Nada mais me interessa, a não ser a entrega e o aceite
No outro lado de mim, ela me espera de braços abertos:
"toma", digo ao deixar para trás uma Enciclopédia escrita por 29 anos
E o mundo recomeça nesse primeiro ano de uma meia vida inteira:
Que belas, minha bela, são as coisas refeitas
PS - Feliz aniversário para nós dois, meu amor. Se você pedir baixinho (como sempre faz, antes de dormir) eu lerei um poema de Fernando Pessoa para você. Fogo do sol, carne da lua.
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