quinta-feira, março 10, 2005

Fatwa

Hoje eu saio para conquistar o mundo, mas o mundo não me interessa
Homens me oferecem desejos embrulhados em papel translúcido, mas não pararei
uma criança gritou, confusa e insana, "ladrão", mas não olharei, ainda que o grito tenha sido para mim
Um demônio me leva ao topo da montanha, mas não sou Cristo, fica para outra hora
Deuses me oferecem o panteão da literatura, mas as palavras me escapam para a boca de outro, não, não posso parar
A morte me convida para juntar-me a mim-descoberto e me inteirar enfim (hoje não, hoje não posso)
Deputados, Ministros, Homens-de-si-para-si...não posso parar

Algo aconteceu, carrego em minhas mãos um presente
Nada mais me interessa, a não ser a entrega e o aceite
No outro lado de mim, ela me espera de braços abertos:
"toma", digo ao deixar para trás uma Enciclopédia escrita por 29 anos
E o mundo recomeça nesse primeiro ano de uma meia vida inteira:

Que belas, minha bela, são as coisas refeitas


PS - Feliz aniversário para nós dois, meu amor. Se você pedir baixinho (como sempre faz, antes de dormir) eu lerei um poema de Fernando Pessoa para você. Fogo do sol, carne da lua.