segunda-feira, março 28, 2005

Quando Lisboa acordar

Há exatamente dez anos atrás, eu pisava pela primeira vez Lisboa. Desde então iniciei com Portugal uma relação tão intensa que chego a sentir na minha genética a familiaridade das coisas e das gentes que estão a um oceano de distância. Quis o bom ou mau destino que justamente este ano eu não mate a saudade tão portuguesa da terra que não é minha. Talvez seja uma dessas ironias finas que passeiam pela obra de Eça de Queiroz; ironia do destino, que é mais irônico que as gentes. Mas carrego comigo a permanência da alma portuguesa, tronco do meu espírito. Fico então a dedilhar o violão que comprei no Rossio, tendo como estrada fronte não o concreto do mundo, mas meu único e inafastável étimo.


Que pode fazer um brasileiro senão comprar o último disco do Madredeus e a Box dos Maias? Ou ainda...escrever coisas assim:


Ai de minh´alma que nasceu tão portuguesa
E vive imersa na tristeza por não conhecer outro mar
Assenhora-se de tudo e de tudo tem saudades
Até mesmo das novidades que nem veio a conhecer


Ai de minh´alma que nasceu tão portuguesa
E se afasta da beleza para poder se entristecer
Tem por tudo que lhe é aparte a semente do seu mal
E não conhece maior alegria que ser triste em Portugal