sexta-feira, abril 01, 2005

Santo Amaro das Salinas

Santo Amaro das Salinas era um forte construído no século XVII pelos Portugueses e que foi incendiado pelos Holandeses. Deu nome ao bairro em que moro. Um dos bairros mais violentos da cidade, com várias favelas, avenidas tomadas por igrejas evangélicas, e uma comprida avenida - em particular - onde travestis fazem o trottoir. Mas apesar de tudo, é também um bairro que abriga a Rua bela da Aurora (uma rua de nome antigo que permaneceu ás ruas fulanas de tal preconizadas e previstas por Manuel Bandeira) e que tem a vista mais linda de toda a cidade a partir da ponte que liga o Recife ao Bairro do Recife. Tem também casinhas residenciais quase interioranas e uma tranquilidade nos fins de semana que beira a solidão das cidades fantasmas. Tem uma capela centenária escondida em uma pracinha que ninguém vê, a não ser que se preste muita atenção (como sói ocorrer com as coisas realmente belas).Tem um barzinho de esquina que se mantém ao longo dos anos apesar de alguns bares da moda com verniz de moderno (seja lá o que isso for) - que agrupam independentes que moram com a mamãe - se instalarem por lá. Lá, nesse bairro tão recifense em sua ontologia - está incrustada minha residência. E moramos felizes por lá, apesar do barulho do trânsito e das orações que expulsam todos os demônios - menos os meus. O fato é que vou me mudar para um bairro tão belo que dói nos olhos. Um bairro que sempre residiu no meu subconsciente como uma porção de existência digna em meio a tantos problemas que são rotineiros em Santo Amaro.
Histórico e cultural bairro de Casa Forte, minha alma é um engenho de cana que te abriga desde cedos anos. Mas há um meandro que me entristece lá no fundo de mim: de não querer largar as terras de Santo Amaro das Salinas, outroras valentes contra o invasor, hoje sobreviventes dos problemas instrínsecos ao seu pedaço de urbis.
Santo Amaro é um fio de manga que se instalou entre meus dentes: mas como dói...