quarta-feira, maio 02, 2007

Lavoura

Plantei em meu peito vinte rosas rubras
Reguei e adubei com todas as coisas-belas a que minha vida se submeteu:
A face concedida depois da cama, a humildade de se supor nada e nunca, a estética simples
Do nada desejar senão aquilo que se é concedido
Aguardei a primavera como quem enxerga castelos e destinos para além da televisão

Mas a terra que cedeu em meu peito não era propícia à lavoura de rosas
E as sementes em mim plantadas se contaminaram com coisas-reais (coisas fatalmente reais como o choro de uma mãe que sobreviveu à morte do filho
como o desejo inconfessável de um velho que morre aos poucos frente a uma escola ginasial)
contaminaram-se com as minhas indisfarçáveis guerras contra o grande amor

E eis que ao invés de rubras rosas, nasceu em meu peito uma planta carnívora

E é por isso que sou poeta