quarta-feira, julho 04, 2007

O CÍCLOPE

Lanço-me ao mundo como quem
por nada se abate no meio do caminho
mas refaço (na mente, ora sozinho)
a alegria de ser bandeirante
dessa estrada normal, fronte e perene,
como se fosse eu navegante
do navio do mundo, esse rente.

Mas antes de cruzar a minha rua
que é porto desse mar inexistente
bem no ápice da glória de ser
homem livre, imortal, transcendente
um gigante me pára e me estanca
com uma carranca de olho-só reluzente

E me olha com o olho bem vermelho
e me diz que o mundo a ser descoberto
é para quem, em si circunspecto,
detém a passividade do que sonha
e não do que se lança ao mar (sob glória)
com velocidade na alma sempre risonha

“Eis que me chamam semáforo ou farol
e eu sou a lembrança sempre presente
de que até mesmo o sol (em seu conseqüente
caminho), ao fim do dia simplesmente
cessa; interrompe-se azul no fim do horizonte
para que se possa dele dizer ‘de si, recomeça’

pare, por isso, e se contenha
espere que o tempo do mundo sobrevenha
e só assim, parado, poderás partir”

Eu, que ao meio do caminho não me abatia
nem por nada parava e prosseguia
com a imensa sede de domar essa nau
o navio do mundo, proa de pau
e gente, vou desfazendo essa alegoria
da velocidade inconseqüente e valentia

Então sob o olho vermelho pude entender
que no meio do caminho haverá sempre
uma parada. Que para poder se lançar
em uma nova nau ou na mesma estrada
a parada é escada nesse mar inexistente
lar do navio que sente essa imensa sede

E o olho do ciclope ficou verde