Ano passado, escrevi um artigo sobre João do Morro. Aliás, sobre a censura que queriam fazer às suas músicas. Até hoje esse artigo rende comentários. Ao tentar demonstra que o cadinho marginal (à margem do oficial) que dá origem às letras das músicas de João do Morro é o mesmo que foi nascedouro de tantos sambas (de Noel Rosa à Lamartine Babo) dei espaço a interpretações que levaram meu discurso para um caminho que eu não havia seguido: o da comparação do samba de Noel Rosa com o samba de João do Morro. De vero, nunca quis comparar coisa com outra, até porque, para mim, os critérios de definição do que é arte e do que vale como arte ainda não foram bem definidos. Gosto de ouvir Noel Rosa. Tenho curiosidade pela música do João.
Ontem, no Guaiamum Treloso, tive a oportunidade de escutar novamente João do Morro. A música dele é de uma precariedade gritante. "Balaiagem" (sic) tem uma melodia copiada de tantas outras que seguem uma sequência maior-menor-maior. A letra tem lacunas propositais decorrentes da falta de intimidade com a língua.
Mas a originalidade e a verdade da letra de João do Morro sempre me surpreendem. E não tem teoria musical que me tire o sorriso do rosto.