Por que chegaste agora, unicórnio, quando minha mão apedrejou o mundo?
Agora que os meus nós seguraram os barcos, e a vazão do mar não passa minha sala
Por que chegaste agora que meu peito inflamado ora se cala,
e quando meu peito calado é, morto, um mar sem fundo?
Por que chegaste agora, unicórnio, se agora eu uso gravata?
E tudo que há ao redor de mim tem carimbo, duplicata e segunda via
Por que apareces a mim quando tenho sono no final do dia
E o coração rebelde morreu confinado em embalagem de lata?
Por que chegaste agora, unicórnio, quando meus cabelos são mais brancos?
E toda palavra que sai da minha boca tem que ser pensada
Tu chegaste quando o exército do mundo derrubou minha armada
E a areia do moto-contínuo fez brotar todos os meus cancros
Por que chegaste agora, unicórnio, quando meus modos são de fino trato?
E as revoluções da noite não resistem mais ao raiar do dia
Por que olhaste para mim quando em mim plantei essas flores de ironia?
E te sufoquei lentamente até de unicórnio verteres em rato