Para Filipe Mussalem, no seu primeiro aniversário
Há tempos, no arco armado, esta flecha está apontada
Na linguagem muda das coisas ela me questiona:
Para onde serei lançada?
Talvez para a paz dos monastérios,
talvez para o calor das batalhas
Quiçá o canto da sala, onde antes havia um piano, se faça a
sua morada
Talvez seja eu mesmo seu alvo
E disso ela ainda não saiba
Em uma noite de vento meu peito perfure
Com duras palavras, nunca lavradas
Há tempos o destino incerto da flecha
Consome ilusões com o futuro negociadas
E eu canto uma canção antiga
Que adormeça homens e armas
Para que a flecha assim permaneça
Suspensa na eternidade da meta
Sempre tesa, paralisada
A inutilidade do meu canto
Vai se mostrando a cada hora passada
A flecha se lançará sozinha
No vão sangrento da madrugada
Quando estiver eu dormindo
Sozinho, silente e mais nada
Acordarei com as mãos vazias de flecha
E o peito perfurado pelo pó da estrada
PS. passei algum tempo sem escrever no Blog, por falta de tempo, oportunidade e no advento de outras formas de comunicação na internet. Estava esperando o momento certo para recomeçar. De certo modo, meu ano começa hoje novamente.