segunda-feira, fevereiro 28, 2005
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Da saudade e outras coisas
Lendo um texto em um jornal amarelado pelo tempo, o tempo me pergunta: de que tens saudade (que o tempo usa o tempo verbal tu, como toda instituição eterna).
Entre viagens para lugares inimagináveis, amores passados a limpo, entre bebedeiras intermináveis, e glórias pequenas (como a de estar vivo), tive saudade de um ponto obscuro da minha vida. E não sei bem porque entre tantas damas cheias de ouro e jade peguei na mão de uma serva, e findei por escolher um momento sem grandes significações dentro de uma biografia quiçá um dia existente.
Saudade, tempo, sinto daquele dia em que nos enfurnamos no carro de Mário e fomos para Enseada dos Golfinhos, e eu já não era um menino, mas também não era o homem que hoje sou. Enseada dos Golfinhos é uma praia perto de Itamaracá sem maiores atrativos turísticos, fora da circunscrição de festas que assola as praias do litoral sul do meu Estado. É uma prainha de nada, depois de um caminho margeado pela mata fechada (pelo menos assim me lembro da praia, talvez seja apenas uma construção da lembrança, como, de resto, é o mundo inteiro).
Fomos eu, o Gordo (todo mundo tem um amigo Gordo), Gabriel e Mário. Não havia qualquer desejo de estripulias sem responsabilidades, ou de experiências sensorias individualistas ou em grupo (como rituais primitivos...bom, vocês entenderam). Estávamos querendo sair um pouco da rotina, na inocência de alguém que só deseja a praia longe ao reverso do concreto perto.
Saudade tenho da gastronomia, a despeito do frango assado comprado na padaria, na beira do caminho, e da farofa industrializada requentada no fogão meia boca (que deu uma nova definição a minha esofagite). Passamos muito bem; talvez porque naquela época nossa língua era menos áspera e qualquer coisa com bastante sal fosse uma festa para o nosso paladar.
Saudade tenho do banho de mar que tomávamos no fim de tarde, olhando as meninas passando, com a única obrigação de não pensar em nada, nem nas meninas. Da areia batendo nas costas sopradas pelo terral.
Saudade tenho da maconha degustada vagarosamente na rede, enquanto o solo de bateria na música de Jorge Ben ia ficando cada vez maior, até tomar conta do nosso sono.
Saudade tenho do futuro incerto que ditava a moda naquela época, e eu só queria morrer muito cedo depois de ter gravado um disco conceitual e ter publicado meu livro de poemas. Éramos todos efànt terribles sem nos darmos contas que acharíamos belos os poemas de Verlaine, embora não tivessemos a maturidade de assumirmos que gostaríamos de lê-los.
Saudade tenho da dor da volta, da poeira levantada pelo carro e nossos rostos pigando de suor enquanto encostávamos nos colchões que havíamos levado para amortecer nossas almas.
Saudade eu tenho desse tempo em que eu não tinha saudade de nada.
Entre viagens para lugares inimagináveis, amores passados a limpo, entre bebedeiras intermináveis, e glórias pequenas (como a de estar vivo), tive saudade de um ponto obscuro da minha vida. E não sei bem porque entre tantas damas cheias de ouro e jade peguei na mão de uma serva, e findei por escolher um momento sem grandes significações dentro de uma biografia quiçá um dia existente.
Saudade, tempo, sinto daquele dia em que nos enfurnamos no carro de Mário e fomos para Enseada dos Golfinhos, e eu já não era um menino, mas também não era o homem que hoje sou. Enseada dos Golfinhos é uma praia perto de Itamaracá sem maiores atrativos turísticos, fora da circunscrição de festas que assola as praias do litoral sul do meu Estado. É uma prainha de nada, depois de um caminho margeado pela mata fechada (pelo menos assim me lembro da praia, talvez seja apenas uma construção da lembrança, como, de resto, é o mundo inteiro).
Fomos eu, o Gordo (todo mundo tem um amigo Gordo), Gabriel e Mário. Não havia qualquer desejo de estripulias sem responsabilidades, ou de experiências sensorias individualistas ou em grupo (como rituais primitivos...bom, vocês entenderam). Estávamos querendo sair um pouco da rotina, na inocência de alguém que só deseja a praia longe ao reverso do concreto perto.
Saudade tenho da gastronomia, a despeito do frango assado comprado na padaria, na beira do caminho, e da farofa industrializada requentada no fogão meia boca (que deu uma nova definição a minha esofagite). Passamos muito bem; talvez porque naquela época nossa língua era menos áspera e qualquer coisa com bastante sal fosse uma festa para o nosso paladar.
Saudade tenho do banho de mar que tomávamos no fim de tarde, olhando as meninas passando, com a única obrigação de não pensar em nada, nem nas meninas. Da areia batendo nas costas sopradas pelo terral.
Saudade tenho da maconha degustada vagarosamente na rede, enquanto o solo de bateria na música de Jorge Ben ia ficando cada vez maior, até tomar conta do nosso sono.
Saudade tenho do futuro incerto que ditava a moda naquela época, e eu só queria morrer muito cedo depois de ter gravado um disco conceitual e ter publicado meu livro de poemas. Éramos todos efànt terribles sem nos darmos contas que acharíamos belos os poemas de Verlaine, embora não tivessemos a maturidade de assumirmos que gostaríamos de lê-los.
Saudade tenho da dor da volta, da poeira levantada pelo carro e nossos rostos pigando de suor enquanto encostávamos nos colchões que havíamos levado para amortecer nossas almas.
Saudade eu tenho desse tempo em que eu não tinha saudade de nada.
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Como um sonho ruim
Eu sou como um sonho ruim
De alguém – que em uma noite suada – lutou para sair e saiu
E em um momento ficou o sonho como algo de dentro para fora a observar quem desperta de fora para dentro
E aos poucos vou desaparecendo como o vapor de coisa que só existiu para os olhos fechados
Em vão luto para permanecer, não permanecerei ainda que lute
Enquanto o que é real desperta,vou adormecendo e me perdendo de mim
E cada segundo da consciência desperta vale a inexistência de um constitutivo meu
Toco meus pés, mas já não há pés
Toco meus braços, mas já não há braços
Toco minhas mistagogias, mas não há nem fé em mim, nem em nada
Pois já não sou eu: sou aquele que desperta de mim e não se lembra
E só pressente o sonho ruim que o precedeu
O pesadelo da inexistência é não ser lembrado.
De alguém – que em uma noite suada – lutou para sair e saiu
E em um momento ficou o sonho como algo de dentro para fora a observar quem desperta de fora para dentro
E aos poucos vou desaparecendo como o vapor de coisa que só existiu para os olhos fechados
Em vão luto para permanecer, não permanecerei ainda que lute
Enquanto o que é real desperta,vou adormecendo e me perdendo de mim
E cada segundo da consciência desperta vale a inexistência de um constitutivo meu
Toco meus pés, mas já não há pés
Toco meus braços, mas já não há braços
Toco minhas mistagogias, mas não há nem fé em mim, nem em nada
Pois já não sou eu: sou aquele que desperta de mim e não se lembra
E só pressente o sonho ruim que o precedeu
O pesadelo da inexistência é não ser lembrado.
terça-feira, fevereiro 15, 2005
Sebastião
Hoje ele faz anos. Como conhecer aquele de quem eu só ouvia estórias? De repente, era quase uma lenda. Eu imaginava-o como um gigante de seis braços que corria atrás de bois fugidos, e, com apenas um passo já estava lá no Mato Grosso iluminando o pasto com a luz da lua que saía pelas mãos dele. Um dia, resolvi pedir a mão da filha dele em casamento. Armei-me com todos os verbos, ensaiei todo meu karatê e desenhei katas no ar, tudo para quando colocasse o meu amor na cela do meu cavalo cinza ele nada pudesse fazer. Imaginei o exercício do contraditório, a luta de braço armada desde sempre. Ao chegar na sala, fui recebido por um homem simples, que não havia escolhido a melhor das camisas para me receber. Acho que ele estava mais com medo do que eu. E apesar de todo medo que aquele pequeno gigante deixava transparecer pelos poros, ele foi muito claro ao me dizer que forjaria um exército se eu machucasse a filha dele. Não precisava tanto, ele já havia me ganhado pelas palavras que sua língua rude não conseguiu dizer, mas que seus olhos gritaram aos meus, abrindo a porta da família dele para esse humilde servo que deitou sua coroa ao sair de casa. Eu o saúdo o homem simples, brasileiro e bom, como o anjo moreno que cuidava da irmã de Manuel Bandeira.
Feliz aniversário.
À Maria de Fátima, por ser quem ela é.
Feliz aniversário.
À Maria de Fátima, por ser quem ela é.
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Cherchez le sant
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
E quando a noite vai deixando o seu lugar
ela se perde entre o samba, o sol e o mar
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
O nome dela é Carolina Beira-Mar
Carolina, acende uma vela prá se achar
Ela já fez promessa para não pagar
pediu licença para ver meu orixá
Subiu ladeira prá tentar se encontrar
a noite inteira até o dia clarear
E nessa hora já não sei o que falar
se minha fé sumiu prá nunca mais voltar
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
O nome dela é Carolina Beira Mar
Carolina, acende uma vela prá se achar
a noite inteira até o dia clarear
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
E quando a noite vai deixando o seu lugar
ela se perde entre o samba, o sol e o mar
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
O nome dela é Carolina Beira-Mar
Carolina, acende uma vela prá se achar
Ela já fez promessa para não pagar
pediu licença para ver meu orixá
Subiu ladeira prá tentar se encontrar
a noite inteira até o dia clarear
E nessa hora já não sei o que falar
se minha fé sumiu prá nunca mais voltar
Ela não sabe prá que santo ela rezar
a noite inteira até o dia clarear
O nome dela é Carolina Beira Mar
Carolina, acende uma vela prá se achar
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Voltando...
Eu já me prometi ir ao carnaval do Rio de Janeiro, visitar Paulinho da Viola na Portela. Também prometi conhecer o carnaval de Minas Gerais, principalmente os das Cidades Históricas. Mas quando ouço os contra-tempos do frevo, os bandolins dos blocos, a tradição que acompanha cada pessoa que se desprende da vida para viver o transitório, não tem como alçar vôo. Meu tempo é este, meu chão está embaixo dos meus pés. Estou ligado por um cordão umbilical que não se rompe de jeito nenhum. Esse cordão é feito de um tempo que nunca vivi mas que dá uma saudade danada. Não adianta explicar...sempre foi assim. Como no "Iluminado" de Kubrick..."o senhor sempre foi o zelador"...eu estou integrado a esse carnaval antes mesmo de existir. Convido a todos para conhecer o carnaval do meu Estado - não estou sendo xenófobo ou bairrista, eu juro. A prefeitura do Recife está realmente organizando o melhor carnaval do país (até onde o Poder Público pode intervir em uma festa carnavalesca) - eu não estou sendo partidário, juro. Venham e me procurem. Eu levarei vocês para conhecer os acordes dos frevos de bloco nos ensaios do Bloco da Saudade; a beleza de se acordar no dia do Galo da Madrugada, o Recife antigo e suas razões que só a tradição conhece, Olinda e sua disposição para engoli-lo na democracia mais verdadeira que poderia existir e a tristeza da terça-feira à noite quando nos despedimos no "Eu Acho é Pouco". Venham, os que amam as coisas permanentes não vão se decepcionar. Aqui é um dos poucos lugares onde o Transitório carrega no seu ventre a Permanência.
PS 1 - Aos amigos, agradeço a folia.
PS 2 - Ao meu amor, obrigado por me revelar o carnaval através de seus olhos - finalmente eu encontro um eco ao meu lado.
PS 3 - Faltam 379 dias para vocês planejarem a vinda
PS 1 - Aos amigos, agradeço a folia.
PS 2 - Ao meu amor, obrigado por me revelar o carnaval através de seus olhos - finalmente eu encontro um eco ao meu lado.
PS 3 - Faltam 379 dias para vocês planejarem a vinda
Assinar:
Postagens (Atom)