Hoje ele faz anos. Como conhecer aquele de quem eu só ouvia estórias? De repente, era quase uma lenda. Eu imaginava-o como um gigante de seis braços que corria atrás de bois fugidos, e, com apenas um passo já estava lá no Mato Grosso iluminando o pasto com a luz da lua que saía pelas mãos dele. Um dia, resolvi pedir a mão da filha dele em casamento. Armei-me com todos os verbos, ensaiei todo meu karatê e desenhei katas no ar, tudo para quando colocasse o meu amor na cela do meu cavalo cinza ele nada pudesse fazer. Imaginei o exercício do contraditório, a luta de braço armada desde sempre. Ao chegar na sala, fui recebido por um homem simples, que não havia escolhido a melhor das camisas para me receber. Acho que ele estava mais com medo do que eu. E apesar de todo medo que aquele pequeno gigante deixava transparecer pelos poros, ele foi muito claro ao me dizer que forjaria um exército se eu machucasse a filha dele. Não precisava tanto, ele já havia me ganhado pelas palavras que sua língua rude não conseguiu dizer, mas que seus olhos gritaram aos meus, abrindo a porta da família dele para esse humilde servo que deitou sua coroa ao sair de casa. Eu o saúdo o homem simples, brasileiro e bom, como o anjo moreno que cuidava da irmã de Manuel Bandeira.
Feliz aniversário.
À Maria de Fátima, por ser quem ela é.