Quando iniciei este blog, em 2004, não existiam as redes sociais.
Achei que seria uma boa idéia publicar os textos que, ora havia guardado há tempos, ora produzia naquele mesmo momento, no imediato fantástico que só uma revolução como a internet pode ofertar.
Por anos a fio, motivei-me a escrever e, de certa forma, divulgar poemas, impressões, crônicas, contos, experimentos textuais e até um pouco da minha personalidade. Visivelmente, posso perceber a linha de som e fúria e calmaria que se abateu sobre dez anos da minha vida, traduzindo de forma muito especial a memória de mim. Fui visitado por poucas pessoas, mas todas elas significativas, que travaram debate comigo e me conheceram para além do advogado e professor de graduação. Os blogs anteciparam as redes sociais que viriam logo em seguida.
No início era o orkut, contemporâneo das primeiras postagens desse blog. Depois vieram o Instagram, o Twitter, e o Facebook, não necessariamente nessa ordem (ou caos). Resisti até onde pude o ato de ingresso em redes sociais, ciente das armadilhas quotidianamente lançadas ao incauto que resolve abrir seu guarda-roupas à curiosidade alheia. Mas não existe imunidade à máquina do mundo. Podemos ser-lhe indiferentes, jamais imunes. Resignado, lancei-me ao engenho da conexão e descobri suas maravilhas e mazelas. Descobri antigos amigos, reencontrei velhos conhecidos. Convivi com o cotidiano daqueles que me eram privados pela própria e diária existência. Adentrei em pensamentos pequenos, mesquinhos, medíocres. Lutei furiosamente contra a tirania do comum, da exclusão, do reacionarismo, da caretice. Cometi minhas próprias gafes. E, por fim, retirei-me silente ao confortável espaço do observatório dos outros, mais ouvindo que falando, porque - como dizia o povo antigo - silêncio é ouro.
Paralelamente, enquanto textos eram produzidos nas redes sociais, esse blog, tal qual uma boneca com olhos de retrós, outrora preferida, hoje largada em detrimento do brinquedo novo, padecia de uma patologia que o assemelhava a um cemitério de si: o esquecimento. Minguaram os textos. Os visitadores. A memória.
Não há espaço para a memória no Facebook. Os textos produzidos são rapidamente retirados para dar espaço a novas idéias, como se o novo fosse completamente desconectado do antigo. Como se nos antiquários não nos reconhecêssemos nos objetos de outrora.
Volto aqui por amor a minha memória. Porque é aqui que vão me conhecer aqueles que sobreviverem a mim. Aqui, meus filhos conhecerão melhor seu pai, quando seu pai não mais existir.
Eu durmo em paz na fúria do mar.