sexta-feira, dezembro 27, 2013

Obra Aberta

(Texto produzido no Facebook, por ocasião do natalício da sala/biblioteca Josué Mussalem)


Hoje, faz um ano, que a sala/biblioteca Josué Mussalem foi inaugurada no Forte do Brum. Todo o seu acervo sobre 2a Guerra Mundial foi doado, juntamente com outras mídias, para que sua coleção pudesse servir à busca pelo conhecimento.

Abaixo, meu discurso na inauguração da sala. 

Porquanto da minha relação com meu pai, Josué Mussalem, uma dúvida sempre me acometeu. Por tanto amor que ele devotou às Forças Armadas brasileiras, à história da guerra do homem contra o próprio homem, porque não seguiu carreira militar? Por que ele não serviu, como se diz no jargão mais popular?

Tendo eu feito a ele essa pergunta algumas vezes ao longo de nossa trajetória comum, a resposta nunca foi pacífica, harmoniosa: por vezes me disse que havia sido preterido no excesso de contingente; outras vezes, disse que não havia seguido carreira militar porque a família precisava da sua constância.

Mas eu quero acreditar hoje que os grandes homens são capazes de enxergar adiante e desfazer as cortinas do tempo e tenho para mim que meu pai sabia que iria servir às Forças Armadas e ao seu país de uma forma diferente.

Guimarães Rosa, no seu famoso discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, disse que as pessoas não morrem, ficam encantadas.

A resposta do meu pai à minha pergunta se desvela, portanto, nesse belo fato que se descortina perante vocês: Josué Mussalem se encantou em Biblioteca. Essa foi sua forma de servir ao seu povo e às instituições que ele tanto amou, para além do seu próprio tempo; para além de sua vida terrena.

Então eu os convido, em meu nome, em nome da minha família, em nome da 7ª Região Militar e da 7ª Divisão do Exército, a encontrar com meu pai no acervo doado e transformado em Biblioteca.

Se vocês tiverem a oportunidade de ler cada livro depositado aqui, encontrarão com meu pai, atravessando oceanos com os soldados brasileiros que lutaram em Monte Castello. Encontrarão meu pai sangrando junto aos jovens expedicionários FEB na contenção do exército alemão. Comemorarão, junto com meu pai, o sabor da vitória das Forças Aliadas e da democracia que se espalhou pelo mundo desde então.

Cada página consultada será um sorriso dado pelo meu pai que atravessará as barreiras do tempo, do espaço e da matéria, pois existem diversas formas de se perpetuar para além da mortalidade e se transformar e cultura, em conhecimento, certamente é uma delas.

Essa é uma missão de mão dupla, porque, para que uma Biblioteca alcance o seu destino, é necessário que existam interessados em conhecer o nosso passado e construir o nosso futuro. Por isso, venham, ajudem a cumprir a missão que foi depositada em Josué Mussalem, pois nesse lugar histórico, neste Forte do Brum, que tanto diz sobre nós, pernambucanos, repousa o sonho do meu pai de ver um povo culto, consciente e feliz.