Em vão tento alcançar a estrela que habita a teia infinita
da nau
Meus dedos segredando esperança vão perdendo sua humanidade
Que – curiosamente – damos o nome de Cidade.
A Cidade me devora com torpor, lentidão e agonia
Irmanado a outros cimentados no tormento
Que gritam: andemos!
Andemos! À estrela da nau!
E o ventre do monstro se chama engarrafamento.
É dia, é noite e nada acontece. Passam-se as eras todas dos
homens.
Rumamos todos apenas para o próximo passo
Em vão sonhamos com o nosso destino.
Pois a Cidade come meus sonhos e regurgita cansaço
Aos poucos vou me esquecendo de quem eu sou
Sou poeira, sou fúria, sou nada, sou imóvel
No engenho teratológico da Cidade perco o meu nome
E paralisado dentro de mim, passo a me chamar automóvel