segunda-feira, dezembro 30, 2013

TERATOLOGIA



Em vão tento alcançar a estrela que habita a teia infinita da nau

Meus dedos segredando esperança vão perdendo sua humanidade

Estou – ai de mim – irremediavelmente acorrentado ao ventre de um monstro

Que – curiosamente – damos o nome de Cidade.


A Cidade me devora com torpor, lentidão e agonia

Irmanado a outros cimentados no tormento

Que gritam: andemos!  Andemos!  À estrela da nau!

E o ventre do monstro se chama engarrafamento.


É dia, é noite e nada acontece. Passam-se as eras todas dos homens.

Rumamos todos apenas para o próximo passo

Em vão sonhamos com o nosso destino.

Pois a Cidade come meus sonhos e regurgita cansaço


Aos poucos vou me esquecendo de quem eu sou

Sou poeira, sou fúria, sou nada, sou imóvel

No engenho teratológico da Cidade perco o meu nome

E paralisado dentro de mim, passo a me chamar automóvel