sexta-feira, dezembro 27, 2013

A Casa é Sua

Meu pai era um economista que não gostava de gráficos. Não se dava bem com dados em tabelas, não obstante as frequentasse para conferir suas percepções. A fonte econômica em que meu pai bebia estava nas casas limpando portas e janelas, estava dirigindo o dia-a-dia nos táxis, trocando dinheiro nos caixas dos bancos.

Acredito que – por isso – ele conseguia se comunicar tão bem com as donas de casa, com os motoristas, com jornalistas, com os funcionários de todas as fábricas. E ele fazia dessa comunicação o seu modo de servir o povo de todo o país. A sua oferta estava na palavra equiparada, na língua comum, no jeito de apontar direções às pessoas que buscavam nele alguma saída para as aflições monetárias do cotidiano. Ele fazia o diamante econômico virar uma pedra bruta de carvão, passível de ser repartida por todos, sem distinção de classe, de credo, de ideologia. Essa era sua economia humana, com rosto, nome e destino.

Quando ele se foi, fiquei pensando sobre o que há de permanência do homem na memória. E para além dos questionamentos metafísicos, vi o meu pai reaparecer sob outras formas, inéditas e – ao mesmo tempo – tão próprias do seu coração.

Primeiramente meu pai retornou como biblioteca. Sua carne se transformou em páginas por onde transita o fluxo contínuo da história. A sala Josué Mussalem foi aberta no Forte do Brum no ano passado e é uma oferta cotidiana de conhecimento para todos aqueles que têm sede de entender acerca do que nos faz brasileiros.

Agora, por iniciativa do Deputado Estadual Augusto César (iniciativa de redundou na Lei Estadual 14.987 de 2013), o nome Josué Mussalem se aparta do homem e recai sobre um conjunto habitacional popular no Bairro de Peixinhos, nascedouro de tantos afetos, como da família de minha esposa.

Assim – ao longe – posso ficar observando a figura do meu pai de braços abertos - transmutada em tijolos, concretos, vidro e sonhos - albergar famílias desejosas de uma casa própria, imaginando a voz dele dizendo, “venham, podem me chamar de lar”.


(texto produzido para o Facebook)