quarta-feira, janeiro 03, 2007

Colo, culto, cultus

Vejo com certa preocupação a indicação de Ariano Suassuna para a pasta da cultura do Governo do Estado de Pernambuco. É de estranhamento essa postura de general que não bota a mão na batalha, mas fica ao longe lançando diretrizes sobre o campo de guerra. Não quer a burocracia, quer linhas gerais. O grande problema do suporte à cultura é a burocracia. Ariano Suassuna tem entrado em choque com algumas das idéias mais interessantes que permearam a cultura pernambucana; Seu confete é em si mesmo, no movimento armorial e nos seus seguidores. Qualquer estética que fuja do padrão do popular/erudito, baseado na junção do medievo ocidental com a cultura da pedra, para ele é sub-cultura, quando muito.
É contra a colonização da cultura, e parece ignorar que culto, cultura e colonização partem da mesma raiz etimológica latina, e que há uma violência necessária na renovação cultural. A exclusão de movimentos como o que se convencionou a chamar de "mangue-beat", do som periférico do rap e de outras formas de expressão cultural surgidas a partir de uma dialética com o mundo (e com os Estados Unidos, porque não dizer...) possui um motor ideológico que não se irmana com uma política pública voltada para a valorização da cultura. Mas esse é o Ariano Suassuna das idéias. Será que o homem público, o gestor da res publica, vai abstrair os pré-conceitos e transcender as exclusões baseadas no seu quixotismo tão engraçado se não levado a sério?