Os poemas de Francisco me deixam melancólico, porque traduzem com lâmina exposta a melancolia que habita nele. Esse é o móvel do poema, transcender o particular e alçar a dor alheia sem se dar conta dela. O poema abaixo lembra um poema que eu fiz em circunstâncias que acredito semelhantes as que levaram Francisco ao cinzel tão contundente. E isso sem que houvesse comunicação explícita, apenas porque ele virou letras.
Por descuido cruzei a fronteira.
Vivo estrangeiro em minha casa.
Bagagem revistada.
Íntimo exposto.
Parte impedida de prosseguir.
O peso dos rancores.
As múltiplas máscaras.
Memórias de amor.
Necessário o catálogo da vida.
O inventário de cada item a abandonar.
E lá se vão pedras e mais pedras.
Passos e mais passos.
Estórias.
E lá se vai insensatez. E espera.
E lá se vai tristeza.
No fim, apenas o indispensável.
O retrato do menino de cabelo de milho,
com sua família centenária.
Punhado de lembranças.
Organizadas por épocas.
Convergentes.
Bagagem revisitada.
Caminho exposto.
Parte regressa, parte prossegue.
O estrangeiro de mim se despede.
Fco.