segunda-feira, janeiro 10, 2011

A Função Social do Amigo Gordo




Ao Gordo (sempre Gordo)
A Filipe (a partir de amanhã, ex gordo)



Todo grupo social que se preze tem um amigo gordo. Ele é a liga que une os demais membros da confraria. Ele é o bonachão, por vezes, é o mal-humorado em outras tantas, é o cara que aceita a berlinda porque sabe que nenhuma reunião regada a cerveja funciona sem uma berlinda. O amigo gordo se sacrifica pelos demais, na sua imensa sabedoria, no santo ofício de beber até a última gota de cerveja, ou de comer o acepipe restante do prato. Morrerá um tanto mais cedo, com as veias entupidas, mas cumprirá, até o final, a sua missão de ligar nas noites de segunda-feira para exigir a presença daquele pai de família na mesa de ferro enferrujada que descansa tantos copos do líquido sagrado translúcido e que será o motor de mais uma discussão conjugal.
O amigo gordo tem uma pança farta, mas possui orelhas imensas. A ele nós confessamos os segredos mais remotos, as transgressões cotidianas, a tristeza de um projeto malfadado. O amigo gordo, por ser quase infinito, é um divã enorme que se oferece à análise do sagrado e do profano.
O amigo gordo sempre aceita um convite para almoçar no sábado. Está sempre disposto a alegrar a tarde de um fim de semana após uma sexta sombria. Ele tem o dom de absorver, em suas camadas adiposas, a tristeza e devolver a alegria que só existe no colesterol. Ele é a vaca mais preciosa do rebanho, o elogio à camaradagem, a irmandade do mundo inteiro personificada em um sujeito.
O amigo gordo nos faz sentir mais leves.