(Alceu Valença)
Mas eu não quero viver cruzando os braços
Nem ser cristo na tela de um cinema
Nem ser pasto de feras numa arena
Nesse circo eu prefiro ser palhaço
Eu só quero uma cama pro cansaço
Não me causa temor o pesadelo
Tenho mapas e rotas e novelos
Para sair de profundos labirintos
Sou de ferro, de aço de granito
Grito aflito na rua do sossego
Mas na verdade é mentira
Eu sou o resto
Sou a sobra num copo, Sou sobejo
Sou migalhas na mesa
Sou desprezo
Eu não quero estar longe
Nem estou perto
Eu só quero dormir de olho aberto
Minha casa é um cofre sem segredo
O meu quarto é sem portas, tenho medo
Quando falo desdigo, calo e minto
Sou de ferro, aço e de granito
Grito aflito na rua do sossego