quinta-feira, julho 28, 2011

Oikos


Na Rua Engenheiro Sampaio, havia uma casa assim
Metade dela era feita de sonhos, a outra, feita de mim
Nela havia mentiras tão belas, de soldados que dançavam no ar
De objetos transmutando em feras, de árvores que sabiam cantar
Havia um piano imaginário e um quintal que não tinha mais fim
Alguns gritos abafados em segredo, apossados como pesadelos
Nas mãos de um homem ruim
As mentiras encantavam meus olhos,
(mentiras que me diziam “sim”)
Na Rua Engenheiro Sampaio, havia uma casa assim


Mas veio a verdade dos homens, e com cimento me soterrou
Levou minha avó, seus segredos, o mistério que meu avô guardou
Os soldados que meu pai enterrava
No quintal que, depois, me acolheu
Eu disse à verdade: “me devolva”, “esse quintal é só meu”
A verdade não perdoa nada
(Nem mesmo o fato que jamais ocorreu)


O corpo do meu pai foi embora
A cozinha da minha avó, nunca mais
E as mentiras que encantavam minha história
Agora seguem insepultas na memória
E nos meus olhos que só olham para trás