sexta-feira, dezembro 22, 2006

Feliz Natal

Qualquer coisa que se escreva sobre o natal
vira um enorme clichê
então, fala o Rei David:

"Bendito seja o Senhor que de dia em dia nos carrega de benefícios
O Deus da nossa salvação"
(salmo 68)

Ps - não virei evagangélico :)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

O Jovem Gilberto Freyre ou A Invenção do Brasil (chorinho)

Essa mulata, quando pisa no terreiro
ilumina um povo inteiro
dentro do meu coração

E vou traçando - em suas pernas - novas rotas
como quem suave aporta
em um porto em formação

Essa cabrocha de gostinho brasileiro
me concede o corpo inteiro
para eu entender a minha mãe

Vai tatuando em minha pele um novo Estado
que emerge inventado
na ante-sala das manhãs

Se ela vive entre as estrelas
Se ela é meu grande amor
Ah, minha cabrocha,
Flor do mundo, minha flor

Ela vem me dar um beijo
reconstrói minha raiz
abro os meus braços
e abraço o meu País.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira com galinha de oxinxim!

Ascenso Ferreira. Oropa, França e Bahia

Estorinha para Bia :)

De um a oito estava tudo dominado. O mundo estava ali. Fechava os olhos e colocava os braços no muro: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito; e os mistérios do mundo, a matriz dos anjos, o porquê da lesma: estava tudo ali, no oito.
Mas chegou sua mãe. Depois do oito tem o quê, Bia? Bia não sabia responder.Existia algo mais para saber? Algo além do que tudo aquilo que ela sabia? Era assim, de um ao oito. Mas não era, sorria sua mãe. Com uma singeleza cruel dos emissários do Misterioso disse: depois do oito, vem o nove.
Nove? O que é o nove que eu não conheço? E se depois do nove vier algo novo? De repente, os anjos voaram, o mundo alargou, a lesma virou algo indefinidamente complexo. No nove, Bia havia crescido.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Crítica de documentário e poema

Aí, deu-se que ontem eu estava assistindo a um documentário sobre João Cabral de Melo que abordava sua relação com a Espanha. Com Sevilha. Um cheiro de taco subiu pela sala e eu fiquei vermelho. Via por causa do poeta ou era Sevilha que prendia meus olhos dormentes pelo domingo que ia? Mas era possível separar João Cabral de Melo Neto de Sevilha?

Enchemos a boca para adjetivá-lo pernambucano, com os orgulhos que prezamos desde nossa gênese, mas João Cabral de Melo Neto não era pernambucano. Era de Sevilha.

De Sevilha porque não somos de onde nascemos, somos (pertença) de onde somos (existência). De onde nos descobrimos. Há uma pátria oculta em nós, que se aparta - tanta vezes - da nossa geografia e que irrompe quando a inexatidão do solo se equaliza em uma viagem e aí dizemos: é aqui que eu sou.

Eu sou de Recife. E já estive em tantos lugares. Mas em qualquer lugar do Mundo, eu trajo esse mar de mortes e esse povo mambembe que come caju. Acontece que minha pátria oculta coincide com a geografia plantada sob meus pés, para o bem ou para o mal.

Mas do documentário, deixai que o diga: a parte que me fez rir à beça é essa. Quando João Cabral - em depoimento - rememoria um acontecido na casa do embaixador na Suíça, quando do auge da Bossa Nova. O amigo Vinícius de Moraes cantava baixinhos coisas lindas: "o coração, o coração, ah, o coração..." E João Cabral lá do fundo: "Vinícius, você não tem outra víscera para cantar não? Se não for de amor tu não sabes né?..."Para gargalhada geral, inclusive a minha.

E aí entra a filha de João Cabral lembrando do que o pai dizia: "minha filha, devemos fazer poemas sobre o copo d´água". Ofício difícil esse. Belo documentário.

POEMA DE COISA POUCA


Um copo d´água:

paz da carne que suor transpira
sossego da saliva
que irmanada nas líquidas víceras da coisa translúcida
adentra infinita na seca da boca
e renova a vida
"Minha carne é de carnaval,
meu coração é igual"
(galvão/moreira, campo grande)

terça-feira, novembro 21, 2006

O Homem Casado

Quando eu era pequeno, habitava em mim um Deus grande
E eu pedia ao Deus grande, grandes coisas:
Aeroplanos, eternidades, consolo quase sempre para as coisas inconsoláveis
Diamantes incrustados nas coisas que eu fazia e farei

Mas eu cresci, e esse Deus foi ficando pequenininho
Deus de coisas pequenas
Nem notei esse fato e pedi a ele a solução de todas as coisas
E Deus respondeu:
- De que lhe adianta a resolução de todas as coisas se tua sala não tem sofá?

Bendito seja o Senhor que se me fez pequenininho

quarta-feira, outubro 18, 2006

Cartola

Entre a carne e a cruz (onde mora a dor)
Onde o meu samba fez morada
E a semente nunca vira flor

Nesse grande mar, solitário e vão
Fico porta-voz da alvorada
E cubro o verde-e- rosa do meu chão

A noite quando me vem é madrugada
E o mundo já se vai dentro de mim

É o samba quem me mostra
A flor a ser exposta
Na valsa da solidão de quem diz sim

quinta-feira, outubro 05, 2006

Quadrinha dos que dizem sim

(Alfama e Mouraria)

Senhor capitão, dá-me vinte cortes de vida
Para eu armar meu festim
Que tenha sangue e ojeriza, que tenha branco e carmim

Senhor capitão, dá-me trinta onças de sonhos
Para eu lançar pela pia
Entre as sobras da janta, que era o que em mim havia

Senhor capitão, dá-me cinqüenta dias de vênias
Ou mais de um mês de amor
Que alguém me disse que tinhas, bons remédios contra rancor

Senhor capitão, dá-me quarenta léguas de caminho
Para eu continuar a sorrir
Ainda que eu tenha que caminhar sozinho, que me leve aonde preciso ir

segunda-feira, outubro 02, 2006

RAQUEL

Procurei-te no útero dividido de nossa mãe
No berço nosso que eu quebrei por ver você em meu futuro
Procurei-te em meus braços que sustentaram a nós dois em meio a dezembros
Na interpretação do Outubro, na interpretação da Libra
procurei nas nossas viagens, onde dividimos a surpresa da imensidão desse Mundo
E nos meus choros que curaste na crueza da verdade do nosso sangue

Procurei e não encontrei.
A festa havia acabado. A tua cama estava fria.
Os nossos pais estavam velhos.

Pisei os lírios e os cacos de vidro
Gritei teu nome e percebi como teu nome é forte
Nem no passado, nem no presente, nem na coisa por fazer
Estava só em meio aos padrões dos nossos genes.

Mas a tua ausência chamou meu nome
E eu fechei meus olhos para ouvir tua voz
Porque a liberdade transporta a carne nossa
Abro a porta do guarda-roupa e te acho sorrindo
Escondida no infinito de dentro de mim

quarta-feira, setembro 20, 2006

Versus André

A lembrança do tempo é o próprio tempo
como a lembrança da noite será a própria noite
eu rezo então às estrelas
Estrelas de um outro céu, de uma outra noite
De algo que me perturba como um sussurro vindo de mim mesmo
Vindo do tempo que só muda dentro de mim
deste ser interpretado que eu me tornei

Estrelas de outro céu, que podem me dizer?
Que há um conforto em um grito que ousei proferir
E que hoje é eco
(ou seremos sempre o eco daquilo que sequer pode existir?)

Mãos das estrelas, acariciam o meu corpo
(acariciam o meu corpo em suspensão)
Aos poucos vou me tornando uma memória, uma lembrança,
lembrança de que aqui existia irresignação

A lembrança do homem é o próprio homem?
Poderá se ouvir a amplidão daquela voz?
Por onde anda você, anjo, sangue e presença;
por onde anda você, estrela tão veloz?
A lembrança do fogo é a sombra que me aquece nesse dia
Nesse Mundo de lembranças em que meu Mundo se verteu
Eu canto esse poema, para que meus olhos continuem abertos
E eu durma acordado em uma outra noite
que na lembrança de mim mesmo se encantou e se perdeu

segunda-feira, setembro 18, 2006

Balada para Eólio de Mileto

Porque assim como acontece com as lagartas
a morte chega aos jovens em forma de asas

quarta-feira, setembro 13, 2006

Balada de Jonh Ashtray

Tenho medo de grandes amores
de baratas voadoras, de pessoas de circo
Tenho medo de bocas de lobo
do que se esconde infinito por debaixo da cama
tenho medo de luz apagada, mas não do escuro
de areia movediça ainda que só no filme
tenho medo de ir e nunca voltar
como Jonh Ashtray
que seguiu sempre reto na Avenida Boa Viagem
e sumiu para muito longe, para além do próprio medo

terça-feira, agosto 29, 2006

barroco

Estar vivo é não se alhear à exposição das instituições em crise
dar-se conta que as mãos envelhecem e que não fizeram a obra esperada
restituir o que foi roubado do sótão de si mesmo ao longo da infância
comer, beber e não se dar por satisfeito
errar seu erro, mas o seu, não de outro, mas o intransferível, pessoal e inequívoco erro
ter na carne o vislumbre da eternidade, como em Cristo (que se come e se bebe e nisso se eterniza)
Estar vivo e perder a medida do tempo enquanto o tempo se esvai
errar seu erro - já falei isso?
dar a cada um um doze avos da sua transitoriedade
esquecer mais do que lembrar que nisso reside a morte
e morrer como certeza de que se está vivo

segunda-feira, julho 31, 2006

Momento Roberto Carvalho

O texto é do site do cara:

"Irreverente, jovem e com presença de palco poucas vezes encontrada no mundo do forró, Josildo Sá é um dos maiores destaques da atual música pernambucana. É um artista diferenciado, que une modernidade e tradição, atitude da capital às raízes sertanejas. Quando compõe, as letras e a melodia falam dos amores, da infância e do sertão farto e cheio de festas. Mas quando está no palco Josildo tem atitudes de rockeiro, dançando, mechendo, pulando, talvez pela grande admiração que tem por Cazuza e Chico Science, influenciadores de sua performance. Prova da versatilidade e criatividade de Josildo é o projeto Samba de Latada que relizou três shows no Carnaval Multicultural do Recife e em Olinda (foto acima a direita), em parceria com o Mestre Arlindo dos Oito Baixos e do Maestro e Clarinetista Paulo Moura. Tamanha foi a adesão dos músicos e a aceitação da imprensa pernambucana que o forrozeiro prepara para lançar em 2006 o CD Samba de Latada, em parceria com o Maestro, tendo o mestre como convidado."

Agora, irreverência mesmo é esse sujeito comendo bode e 'mangando' da cara dos pobres poetas. Prazer inenarrável, tanto do bode (preparado por Glívio), quanto do sarro.

Abraços, Josildo

segunda-feira, julho 03, 2006

Alô Glívio, alô Josildo

Há uma linguagem que só se fala à beira de coisas boas. Essa linguagem de quando em vez se perde no meio do trânsito, dos bancários, do noticiário na televisão. E aí, quando estamos na ressaca de uma copa que nunca foi o que poderia ter sido, somos surpreendidos pela palavra falada no telefone, relembrando a linguagem que nos remete às coisas boas.
A grande vingança é ser feliz, amigo Glívio. E a felicidade é como a pluma soprada na mesa enquanto se bebe um bom vinho e se enche a barriga (bucho, diria Josildo) de coisas circunstanciais. Que quem precisa de eternidade é padre. A gente precisa é de uma boa câmera prá registrar nossos sorrisos enquanto ainda temos olhos prá ver. E nisso me comprazo. Obrigado por não desistir do nosso reencontro. Que venham outros domingos humanos de alegria que os anjos não conseguem compreender. Só o jazz.

Josildo, foi um prazer conhecer você e ouvir seu CD com Paulo Moura em primeira mão. Pode acreditar que aquela parceria está de pé. Forte abraço sertanejo daqui das terras do centro.

quarta-feira, maio 03, 2006

quarta-feira, abril 12, 2006

E o tempo, cadê?

Eu queria ser mil, que nem o Mário de Andrade

sexta-feira, março 31, 2006

Volta

Volta prá cama, mulher

A estrela que era de sonho, fez-se vida e se quebrou
é melhor mentir na cama, é melhor mentir no amor
que minha cama é tua amiga, sabes onde ela vai dar
e as mentiras do meu samba nunca vão te enganar

Volta prá cama, mulher

Mais vale o amor bem feito, do que o dia a se viver
na certeza do meu leito você não vai se perder
pois o mundo é um labirinto de convites tão gentis
para ver a flor do asfalto vender a sua raiz

Volta prá cama, mulher

Hoje o mundo acorda cedo para beber da confusão
eu te ofereço o meu degredo no prazer da contra-mão
de acordar entre os meus sambas, vendo o dia se acabar
transpirando amor e medo e vento e noite e samba e mar

segunda-feira, março 13, 2006

Parabéns

A duas pessoas:

Em primeiro lugar à Maria de Fátima, pelos dois anos ao meu lado. Essa aqui é a minha cara da moeda - e ainda que a data pertença a nós dois - vou comemorá-la louvando você. Parabéns, meu amor:

"Tanto amor que há entre dois que em dois não cabe
Não cabe no mar, nas circunstâncias da terra, no clamor do soldado ferido
Não cabe em três, em mil, em número que só existe para as crianças
Não cabe no passado, no futuro, no presente, na cena final de 2001
Não cabe na carne, no espírito, no prazer do fim do dia que situa além dos dois
Não cabe na música, na pintura, na escultura, no entalhe que eu fiz quando criança
Não cabe no leite queimado, no sangue estancado, no café frio

Tanto amor que há entre dois que em nós não cabe

Não cabe no exagero, não cabe no poema..."

Em segundo lugar, a Rodrigo a quem devo tantas circunstâncias que ainda me acompanham pela vida afora. Vou lembrar dos primeiros versos de 'Tempo", uma música do "Deus e o Diabo na Terra do Som" (lembra?) que já era dedicada a você. Feliz aniversário, meu velho. Bem-vindo ao Cabo da (sempre) Boa-Esperança:

"Quando o tempo vem, não importa bem
que o pronome submeta minha voz" - (só me lembro disso :) )

quinta-feira, março 02, 2006

bebida

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Felicidade sim

Quarta, quinta, sexta e o resto do ano de cinzas. Até o próximo carnaval. Não vou falar nada porque ainda é recente a dor da terça-feira gorda que se despede cantando como faziam os fenícios. Saudade tão grande....

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Mas é carnaval, não me diga mais quem é você

Marcha de Carnaval

Na bifurcação, no fim da avenida, perdi meu bloco
E parado – entre dois caminhos – me vi apenas um
Apenas um com as circunstâncias que me acompanharam :
Oculos, sapatos, esperança e uma gaiola vazia
Apenas um, de vista a muitos, mas apenas um

Na bifurcação, no fim da avenida, parei cansado
E me vi só de braços dados com a mesma canção
Que me acompanhou nas guerras, nas glórias e nas angústias
Perdi meu bloco mas ainda estou com a mesma canção

E lançado à dúvida de dois caminhos (eu, meus óculos, sapatos e esperança)
Ficarei parado enquanto o bloco avança em um desses desvios
um ao largo de mim que não fui
Outro à margem do que fui – minha lembrança

terça-feira, fevereiro 07, 2006

As Tradições

Ao restaurante Leite





Valha-me Deus, as tradições !

Quedo caiado pelo amarelo do daguerrótipo
Como se não possuísse dantes outra cor
Dantes o azul morno que definiu minha infância
Dantes o vermelho do partido ao qual filiei minha juventude
Dantes isso que é espectro daquilo mas que não cheira a morfina
Mas resto “arrebalde” que é uma palavra antiga e que não se diz mais.

E ainda que eu tenha em mim a sede de domar coisa-nova
Vejo-me sentado à mesa reiteradamente posta
Mesura daquele garçon, que não se grafa garçom, e que serviu com a mesma mesura
ao meu avô.

Eu estou avizinhado por homens mortos –mas perpétuos
Suas histórias são contadas pelos seus bigodes e relógios de algibeira
Pelo talher de prata que um deixou cair ao pensar no tempo que não voltará
Mortos que me oferecem o charuto – e o charuto me perpetuará
( eu estarei morto)
Morto para o mundo que dura cinco segundos e que se refaz
Mundo paráfrase do mundo que havia antes
Mundo que o é por cinco segundos e que não será nunca mais

Valha –me Deus, as tradições !

Essa forma reiterada que congela o conteúdo
A mesa posta em ordem que é sub ordem universal
O terno, a gravata, o sorriso repetido
Até a desordem de nossas almas segue o mesmo ritual
E eu não estou velho, estou sempre
No hiato de mim-para-mim não cabem mais revoluções
Minha insígnia de guerra, que dantes foi o inconformismo
É hoje o suspiro: Valha-me Deus as tradições !

Eu estou encharcado pelo meu sobrenome
E quando me chamam, chamam meu ancestral
Do primeiro de mim, meu corpo é apenas um instrumento
Instrumento desse ser que é nomeado mas que nunca existiu

E quando disserem “Mussalem”, chamarão meu pai e meu avô
Até que se possa dizer o mesmo de mim, quando meu filho disser “já vou...”
Eu irei com ele, para ser a sombra em seu destino
E comigo irão, o menino, meu pai e meu avô

Eu serei perpétuo em um retrato na parede
Naquele restaurante em que se serviu ao meu avô
Servirá, o garçon, com a mesma mesura
E o daquerrótipo continuará a definir minha cor
O mundo se reparafraseará, lá fora, sendo outro mundo, outra vez
Aqui dentro a tradição conserva o mesmo mundo em nossas almas
Transformando-as em um painel de azulejo português.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Hoje

Em homenagem à Mozart escutem "A Rainha da Noite" da "Flauta Mágica", principalmente os que admiram os Maçons (Mozart expôs segredos maçons e segundo uma das lendas que cercam sua morte prematura, foi assassinado por eles). Mentira. Mas isso só torna a audição mais gostosa.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Carta para Glívio:

Amigo Glívio, esse final de semana fui a sua loja e a encontrei fechada. E o que é pior: aquelas risadas soltas que eu dei com meus amigos em noites de traspassamos o expediente comercial estavam abafadas. Não se ouviam mais. Perdi o passo de discorrer contigo sobre a permanência do vinil pelos seus ruídos e a condenação da pureza do laser (pois o puro deixemos para o paraíso, aqui convivemos com pecados saudáveis, como a gula).Perdi o sabor intuído do futuro que estava dormindo na sugestão perspicaz do amigo, sugestão para se comer a dois, como se costuma lá em casa.
Glívio, as transnacionais venceram? Como eu queria que suas ideologias tivessem vencido o meu pai naquele dia de portas cerradas, quando e onde eu não podia mais saborear a surpresa que você prepararia para nós, enquanto nos empanturrávamos de vinho (porque vinho também é comida), ao som de Billie (que hoje me permitirá chamá-la assim), no disco escolhido por você. Mas os cálculos do meu pai são imperdoáveis e, infelizmente, exatos como a maldita pureza do CD.
Mas o pior, o pior disso tudo, amigo Glívio, é que eu não tenho a menor idéia de como encontrar você, de como ligar pra você, de como dizer que a amizade é a mesma, de convida-lo para uma farra e preocuparmo-nos com isso amanhã. De dizer o quanto sua comida me ensinou.
Se você ler isso por alguma razão que desconheço, se você for trazido a esse mar dantes furioso, se você chegar nessa terra inventada pelas minhas sem-razões, manda um e-mail pra mim (amussalem@hotmail.com). Eu não sei cozinhar, mas o sabor da amizade é algo que eu gosto de temperar.

Forte abraço

André

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Margarida

Essa é Margarida. Um dia vai ser. Não tenho palavras para designar tamanha lindura. Só quem é louco por animais feito eu, tem idéia desse bicho aqui. Posted by Picasa

domingo, janeiro 08, 2006


A raz�o pela qual crian�as e gatos n�o se d�o bem... Posted by Picasa

quarta-feira, janeiro 04, 2006


adoro fotos sem qualquer enquadramento Posted by Picasa

And a happy new year Posted by Picasa

terça-feira, janeiro 03, 2006

O significado cabalístico de 2006

Há exatos 10 anos - em 1996 - entramos em estúdio eu, Rodrigo Pinto, Carlos Campello, Alexandre Moreira e Giórgio X-nofonte, na primeira de várias gravações que permeariam nossas vidas até hoje: a gravação de "Bossa".
"Bossa" foi a estréia do Confraria de Bamba (à época denominada de "Confraria de Samba", denominação modificada pela provável confusão com os então efervescentes grupos de pagode de churrascaria), um projeto gravado no Conservatório Pernambucano de Música, em um dos mais modernos estúdios de gravação da época. Éramos 1o anos mais jovens, tínhamos perspectivas nunca confirmadas mas que foram registradas em uma mesa digital de 24 canais.
A despeito de todas as falhas de gravação, a audição hodierna de "Bossa" transparece a explosão de criatividade que acorda nos 20 e poucos anos e que portávamos como cédula de identidade. Não há uma identidade nas 05 músicas de "Bossa", contrapartida da juventude tanto minha quanto de Rodrigo que impedia, através da surpresa de desvelar-se-mo-nos músicos, uma unidade tanto de composição quanto de arranjos.
Por isso mesmo a delícia de se ouvir "Bossa" 10 anos depois; seja pela voz hesitante e falha, seja pela poesia juvenil e - de certa forma - inocente que desponta na audição de cada música. "Bossa" teve uma acolhida mais favorável do que podíamos imaginar, mas nunca foi divulgada para o grande público, como cada gravação posterior do Confraria até sua última edição "Obra Aberta, Carta Fechada", que eu considero a obra mais bem acabada por nós produzida: o amor ao samba e ao frevo tradicional devidamente homenageado em três músicas dedicadas a Paulinho da Viola.
Por ironia do destino, "Obra aberta" volta ao mesmo ponto de "Bossa", quebrando com as experiências de "Confraria de Bamba", a segunda fase do projeto, gravada em 1998.
O fim mudo do Confraria retrata a minha incapacidade de dialogar com o mundo lá fora, a despeito das tentativas de divulgação das músicas empreendida por mim e Gustavo, chegando ao ponto de burlar a segurança do "Abril Pro Rock" prá entregar uma cópia de "CD" para Lenine (onde estávamos com as cabeças?). Mas talvez o silêncio seja mais permanente do que o barulho e é por isso que a despeito do desconhecimento geral de "Bossa" ela continua nos impulsionando para registrarmos - em silêncio- novas coisas (no melhor contexto de Moacir Santos) com outros nomes, mas com o mesmo espírito.
10 anos depois, vamos gravar o "Som na Caixa, Mané" e eu deixo com vocês a letra da música que abrirá o novelhonovo projeto: "Oração de Madame Satã a Santa Bárbara"

Oração de Madame Satã para Santa Bárbara


Por que será que ele samba
E me deixa bamba assim ?
E assim, sai varando a madrugada
E me deixa guardada, dentro de mim

Diz que a noite é uma criança
E que o mundo é seu lar
Diz que não sabe se volta
Nem me pede pra esperar

Não vou me importar
Se ele vai sem hora
Jogar-se aos braços do ar
Ou se ele então demora

Esse homem vou amarrar
Com um santo de Angola
Que é pro dia cedo raiar
E ele voltar-me agora

Zera a reza, a terça, mãe, irmã, Iansã
Eu fiz uma promessa, Ioruba, Nana
Ponta de Lança guarda minhas costas vãs
Com essa rosa negra

Não vou me importar
Se ele faz das horas
Um cetro pra ele reinar
Pela noite afora

Santa Bárbara há de escutar
Essa filha que ora
Pra dessa febre lhe exorcizar
E ele encontrar a aurora

Zera a reza, a terça, mãe, irmã, Iansã
Eu fiz uma promessa, Ioruba, Nana
Ponta de Lança guarda minhas costas vãs
Com essa rosa negra

segunda-feira, janeiro 02, 2006

E um cantinho de terra n´algum lugar

Ah sim, essa aí diz o mesmo, com lagostins nos dentes e se empanturrando de camarão: "Se fui pobre, não me lembro." Mas a quarta-feira de cinzas chega...ah, chega Posted by Picasa

2006 é um mar azul a ser descoberto

Se fui pobre, não me lembre até depois do carnaval. Aliás, só depois do carnaval volto a funcionar corretamente. Enquanto isso, vou na manha, devagarzinho, concretizando 2006 aos poucos, sem pressa muita, que o sufoco até o fim de 2005 foi grande. Merecido passeio de lancha em Maragogi proporcionado pelos amigos ricos. Que a riqueza - da alma, principalmente - me contamine nesse ano que chega. Posted by Picasa