Carta bem escrita e tão bom quanto cheiro de café quente no frio. Poucos (as) são os que fazem cartas tão belas que poderiam ser facilmente publicadas em um coletânea de boas coisas da vida. Eu tive a sorte de receber uma carta tão bela que nunca me saiu da cabeça. Serei discreto com o nome de quem me enviou. Se ela entrar por aqui, ela saberá.
"Fiquei pensando em uma forma de agradecer pelo presente, às vezes demoro tanto pra dizer as palavras certas que chego a virar folhas...
É como um bom samba mesmo, aquele que chega de mãos dadas com a lua e sai derramando pela boca da noite todos os propósitos da vida. Ao me deparar com o gesto, não sei como não deixar o encanto não vir; chego a pedir licença ao tempo para retrocedê-lo:
- Em que momento chegastes a pensar nesse mimo?
Talvez o acaso possa responder-me e, mesmo não podendo dizer-te tudo, admito: o teu agrado calou-me os olhos.
Então que a poesia te diga:
'-De sua formosura
deixai-me que diga
belo como o coqueiro
que vence a água marinha
- Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria
-Belo como a coisa nova
na prateleira vazia
- Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia
- Ou como caderno novo
quando a gente o principia
- É belo porque com o novo
todo o velho contagia
- Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia
- Infecciona a miséria
com vida nova e sadia
- Com oásis, o deserto
com ventos, a calmaria'
João Cabral de Melo Neto
Recife, quase treze de Fevereiro de dois mil e quatro"